Muito obrigada vovó Maria!

setembro 17, 2023

Mariana Rodrigues – Psicanalista e Advogada e cronista nas horas vagas O meu nome é como se fosse uma continuação do dela: MARIAna; e é assim que eu me sinto, alguém que teve o privilégio de ter Maria como base, pra crescer e ir além.

Mariana Rodrigues – Psicanalista e Advogada e cronista nas horas vagas

O meu nome é como se fosse uma continuação do dela: MARIAna; e é assim que eu me sinto, alguém que teve o privilégio de ter Maria como base, pra crescer e ir além.

Maria foi uma menina de Diogo Lopes, perto de Macau, que enfrentou a peculiaridade do pai. Morava em uma casa, que meu bisavô construiu, com apenas duas paredes e um teto, no meio do mato; caçava tatu pra comer, criava galinhas e foi picada por uma cobra venenosa. Ela sobreviveu aos bichos e aos medos, e eu existo por isso.

Minhas raízes tem nome de conto infantil: João e Maria. Deles dois se fez José, e de José, eu nasci. Vovó teve uma filha que se chamou Maria Nazaré, dizem que ela se parecia comigo, mas foi Geruza quem resistiu aos efeitos do veneno da cobra e sobreviveu pra contar história e ser o maior exemplo de dedicação que eu conheço.

Fotos do acervo de Mariana Rodrigues

A minha avó me ensinou o que é gratidão antes mesmo da Internet se apropriar desse termo. E a gratidão dela, se expressava numa generosidade para com o outro, como eu nunca vi igual. Ela me ensinou, talvez sem saber, o que é sororidade e rede de apoio. Cuidou de vários resguardos e bordou muitos enxovais.

Ela me confidenciou a mágoa de não ter podido estudar a cartilha do ABC, falou do medo de trovões e da falta que sentiu da mãe dela, que perdeu os filhos por ter se separado do marido. Ela lavou roupa em rios, areou alumínios com areia das dunas e tinha uma mão boa com as plantas; adorava um remédio de mato. Bordava e fazia crochê.

A vida quis que ela fosse se desconectado do presente pra poder viver um pouco de fantasia. O início do Alzheimer nos rendeu ótimas aventuras. Eu adorava entrar no mundo dela. Antes da vida adulta me arrebatar, eu batia mundos e fundos com ela e titia. Vovó foi se indo há algum tempo. Ela nos deu a chance de ir se despedindo. Mas a morte é a certeza que sempre deixa dúvidas e dor. É a interrupção que constrói, mas rompe rotinas e isso machuca.

O ônus de amar é ter que lidar com a falta que o outro provoca de várias maneiras. Eu construí a ilusão que a morte anunciada ia doer menos. Mas qual a morte que não é anunciada? Que minha dor fale da intensidade com que amei e fui amada.

Te amo, Maria. Muito obrigada!

2 respostas para “Muito obrigada vovó Maria!”

  1. Orlando Soares disse:

    Bela historia, coincide com muitas outras Maria, mundo à fora.

  2. Angela disse:

    Belo depoimento, eternas lembranças que trazem saudades e alegrias