MEMORIAL NO CEARÁ-MIRIM
Franklin Jorge – Escritor e Jornalista O professor Severino Martiniano me surpreendeu com um pedido: a criação de uma espécie de Memorial que tornasse acessível aos meus conterrâneos parcela, por mínima que seja, do que produzi em termos culturais em pouco mais de cinco década de produção literária e jornalistica voltada para as Artes e, […].

Franklin Jorge - Escritor e Jornalista
O professor Severino Martiniano me surpreendeu com um pedido: a criação de uma espécie de Memorial que tornasse acessível aos meus conterrâneos parcela, por mínima que seja, do que produzi em termos culturais em pouco mais de cinco década de produção literária e jornalistica voltada para as Artes e, em especial, para as Artes Literárias e Jornalísticas.
É a segunda tentativa sua, nesse sentido. Na primeira, há uns dez ou quinze anos, ele pretendia instalar meu acervo então ainda mais volumoso do que é hoje, no belo Palacete já centenário que deu origem ao Colégio Santa Águeda, hoje transformado em memorial de uma freira que fez história no Ceará-Mirim. Não demonstrei grande interesse e a ideia morreu no nascedouro...

Agora, ele retorna com a mesmo ideia, alegando a minha condição de ente anônimo na terra de meu nascimento e a importância do acervo que amealhei em anos de trabalho "modesto e criterioso", conforme as palavras do grande escritor Walmir Ayala em um artigo publicado, há uns 40 anos, no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, acerca de meu trabalho de divulgação da Cultura Brasileira.
Dessa vez me senti mordiscado pela Mosca Azul, embora já não tenha saúde nem ânimo para empreendimentos que exijam de mim mais do que isso, dar sem grandes sacrifícios ou prejuízos à minha saúde abalada por uma sucessão de Isquemias que alteraram a minha cognição (ontem, um médico que consultei se referiu a uma espécie de Dislexia) que dificulta o meu entendimento das coisas, além da perda de parte da audição, dos movimentos e da visão (essa, em parte reversível, se eu puder dispor dos recursos necessários para o tratamento).

Contudo, apesar dessa realidade de difícil superação, senti-me contagiado pelo entusiasmo de Martiniano, que se dispôs a procurar apoios para esse empreendimento. Logo me ocorreu ceder em comodato, meus 37 retratos, pintados por artistas como Fernando Gurgel. Etelanio Figueiredo, Sante Scaldaferri, Diniz Grilo, Gilson Nascimento, Rossini Euintas Perez Rehane Vatista. Cláudia Lange, entre outros. Pinturas que eu próprio produzi inspiradas nos canaviais do Ceará-Mirim -, fac-símiles de correspondência com grandes escritores e artistas, objetos, reconstituição de meu estúdio de trabalho etc.
Sobretudo pensei que, a depender de minhas condições intelectuais e físicas, pudesse ministrar Oficinas e Laboratórios de Leitura Criativa e Produção de Textos Literários e Jornalísticos que pudessem constituir uma atividade paradidática para alunos da rede Fundamental de Ensino.
Não sei se isto é exequível em uma terra onde comumente "gasta-se 200 para impedir-se que alguém ganhe 20..."
Em todo caso, louvo a ideia e a iniciativa generosa do professor Severino Martiniano, que assim demonstra e prova a sua vocação de Educador consciente e inovador.