Valério Mesquita - Escritor (mesquita.valerio@gmail.com)
A primeira reação que eu tive foi a de que o arquivo do Colégio Santo Antônio (Marista) de Natal havia sido devorado pelas chamas. Ou mesmo, corroído pelas traças sorrateiras inimigas do papel. Por que, então, tais perplexidades?
Ora, tudo começou a partir de uma conversa amena com antigos alunos da década de cinquenta e começo de sessenta, os quais, como eu, nunca receberam convites para as festas comemorativas do ex-aluno Marista. Indaguei a quinze ou vinte estudantes daquele tempo e confessaram que nunca foram lembrados. Nem para dá dinheiro como é comum hoje em dia. Todos infantes e adolescentes que passaram pelas salas circunspectas, que rezaram diuturnamente o terço (hoje não existem mais), que passearam pela matinha, uns lesos e outros ilesos, que jogaram peladas nos três campos de futebol, que estudaram e aprenderam as sábias lições de mestres inesquecíveis, acham-se esquecidos pela instituição que tanto amaram, defenderam e serviram.
Afinal, qual o critério adotado para celebrar o dia do ex-aluno ou do fundador, o padre francês Marcelino Champagnat pelo qual tanto oramos para sair da bem-aventurança e chegar a atual santidade?
O que sei e muitos também, é que somente os ex-alunos mais recentes são chamados e, os mais antigos, obliterados. Por exemplo, do ano de 1954 a 1962, período em que lá cursei o primário, o ginásio e dois anos do segundo grau, pontificaram colegas que alcançaram hoje postos importantes da vida política, empresarial, profissional e, nem por isso, são homenageados com um convite para celebrar o patrono, a instituição, o tempo e os próprios professores da época, imorredouras personagens responsáveis pela nossa educação.
Companheiros antigos como Cláudio Emerenciano, Ricardo e Rogério Freire, Gustavo Ribeiro, Edgar Dantas, Ney Lopes, José Agripino, Cassiano Arruda, Nélio Dias, Luciano Barros e Zeca Passos, Leônidas Ferreira de Paula, Roosevelt Garcia, Fernando Bezerra e tantos outros que o espaço não permite nominá-las são ignoradas lamentavelmente.
Não posso afirmar que esse descuido repetido mereça ser perdoado. Os alijados não precisam de homenagens. O que pretendíamos era resgatar a memória dos olvidados professores porque somos todos testemunhas de um tempo rico de cultura e de saber.
Reverencio, aqui, os irmãos maristas de 1950 e começo de 1960: Osvaldo, Nelson, Regis, Inácio, Miguel Alípio, Estevão, Armando, Sebastião, Adonias, Ilídio, Paulo Beckman, Pedro, Celso, Henrique, Adauto, Hipólito, Jorge, Bernardo, Anacleto, Leão, Plácido, todos, chamas votivas que não se apagaram da nossa lembrança apesar dos gerentes do Santo Antônio dos últimos anos – digo, apenas que os nossos vestígios ainda estão lá.