Lições que não se ensinam na escola
José Luiz Ricchetti – Engenheiro e Empresário O tempo ensina em silêncio.

José Luiz Ricchetti - Engenheiro e Empresário
O tempo ensina em silêncio. Às vezes, com uma dorzinha que incomoda mais que machuca. Outras vezes, com um gesto simples - um olhar, um aperto de mão, ou até mesmo a ausência dele.
Lembro do meu pai, sentado na varanda, sempre com o sapato engraxado e a roupa simples, mas impecável, mesmo que fosse só para varrer folhas do quintal. “Nunca aperte a mão sentado”, dizia ele, erguendo-se como se o mundo merecesse o seu respeito inteiro, não só a mão.
Foi com ele que aprendi que comida oferecida é bênção - e que falar mal dela é como cuspir no chão sagrado. “Se é convidado, agradeça, coma com gosto e elogie o tempero, mesmo que o sal tenha fugido da panela”, ria, servindo o arroz seco na casa de uma das minhas tias, sem nem piscar.
A gente cresce achando que ser esperto é pegar o último pedaço. Mas ele me ensinou o contrário: "O último pedaço pertence a quem mais cede, não a quem mais quer."
Na vida, existem códigos que não estão nos manuais de etiqueta, mas na alma dos justos. Proteger quem vem atrás, respeitar quem caminha ao lado - isso, sim, é caminhar com dignidade. E em qualquer negociação, o silêncio, muitas vezes, vale mais que a primeira palavra.
Hoje em dia, é muito comum ver gente se apropriando do brilho dos outros – eu que o diga. Mas o brilho verdadeiro, ah, esse só vem quando se respeita a origem da luz. Não se leva crédito por algo que não nasceu das suas mãos.
"Vista-se como se fosse encontrar o amor da sua vida", dizia minha mãe, mesmo nos dias mais banais. Porque o cuidado com a aparência reflete o zelo com a vida. E entre as tantas coisas que ela também me dizia, uma ecoa até hoje: "Fale com o coração, mas não esqueça de levar a cabeça junto."
Aprendi também que perguntas abrem mais portas do que respostas - e que o palavrão, embora desça fácil pela garganta, sobe difícil na alma de quem escuta. Elegância está no tom, não no volume.
Sentar-se à mesa com alguém é um ritual quase sagrado. Deixe o celular de lado e olhe nos olhos. Um sorriso vale mais que mil emojis. Um olhar diz tudo que a pressa insiste em atropelar.
E se você não foi convidado, não vá, não se ofereça. A presença verdadeira é como o perfume: deve ser sentida, não imposta. Nunca tenha vergonha de suas raízes - elas são seu passaporte de humanidade. E quanto ao amor… ah, o amor! Ele não se implora. Amor, quando é de verdade, se oferece. E se retribui. Sem juros, sem cobranças, sem desespero.
Hoje, quando vejo o mundo apressado, tropeçando em likes e meu país atropelando valores, fecho os olhos por um instante e volto para varanda do meu pai. E ali, com cheiro de café e som de vento nas folhas, lembro que viver bem não é ter muito, mas saber das coisas que não se ensinam nas escolas.
São essas que moldam o homem. E que fazem, no fim das contas, a alma valer a pena.
José Luiz Ricchetti – 21/03/2025
