Lição de boas maneiras do Capitão Antônio Silvino no RN Fazendas “ROSÁRIO”, “BOCADINHO” e “ADEQUE”
Transcrito do Blog do Cobra O Capitão voltou a “Rosário”.
Transcrito do Blog do Cobra
O Capitão voltou a "Rosário". Em seguida, demandou a Vila de Santana do Matos. Hospedou-se no Sítio "Bocadinho" de Manoel Baracho, na periferia da vila. Asseclas abrigaram-se à sombra da grande tamarineira em frente à residência. Após o almoço, fizeram a sesta. Ao pôr do sol, saíram, a pé, na direção de Jucurutu.
O bando, faminto, caminhava dentro da noite, fustigado por neblina impertinente. A temperatura esfriava. Parou à margem da estrada, no sítio "Adequê", de Antônio Baracho, no município de Santana do Matos.
O Capitão Antônio Silvino bateu na porta repetidas vezes. Após longa espera, ouviu uma voz feminina.
- Quem é? Perguntou uma voz de mulher.
- Capitão Silvino, respondeu. Sou de paz. Não tenha medo. Abra a porta. Sua casa está protegida.
Em pouco tempo, surgiu uma senhora com uma lamparina à mão.
- Cadê seu marido?
- Viajou. Estou com minhas filhas.
- Como é seu nome?
- Anísia.
- Que tem pra gente cumê? Somos treze.
- Tenho farinha e galinhas no poleiro.
- Está bem, pode preparar.
Passado algum tempo, ela anunciou:
- Seu Capitão, a comida está pronta.
- Pode botar. Iniciada a ceia.
Um dos presentes voltou-se para a dona- da-casa e reclamou em tom galhofeiro:
- Ô comê ruim... está insosso... A sertaneja esquecera-se do sal.
Contrariado, Silvino repreende o comparsa:
-Seus modos não me agradam. Você não tem direito de reclamar desta mulher que, além de pobre, tem filhos a criar e está nervosa com estranhos em casa. De boa vontade, nos atendeu a estas horas. Ela merece consideração.
Todavia, o cabra ignorou a advertência e continuou a zombetear. Silvino volta-se para a mulher e pergunta:
- A senhora tem sal na cozinha?
-Tenho sim sinhô, respondeu a velha senhora.
-Traga um pouco., pediu o Capitão Silvino
Logo, foi atendido. Ele recomendou a mulher:
-Tire o prato daquele moço e ponha outro com o sal, no seu lugar.
Sem se dar por achado, o cabra reclamou:
- É isso que eu vou cumê?
De rifle engatilhado, o Capitão Antônio Silvino encarou-o com firmeza:
- É isso mesmo. Coma, pra você aprender a se comportar na casa dos outros.
De cara fechada, o jovem serviu-se de pequena porção, repetida diante de nova ameaça. Voltou a cear. Os demais estavam em silêncio. Os veteranos da caterva recordavam-se do episódio da Fazenda "Riacho do Sangue", na Paraíba. Num gesto de censura, Antônio Silvino, à mesa, matara o bandido que desafiou sua autoridade.
Era Junho, mês de inverno. Lá fora vagalumes riscavam a escuridão. O canto dos grilos, o ruído das folhas agitadas pela brisa e o chiado dos respingos de chuva quebravam a monotonia daquela ceia.
Silvino quis pagar a despesa. Não conseguindo, se despede, dizendo o costumeiro refrão:
- Em sua casa ninguém bole. Se alguém tentar, me avise onde eu estiver.
Passava de uma hora da madrugada, quando o grupo partiu, debaixo de forte neblina.
Essa história espalhou-se no Estado. Comentava-se a lição de boas maneiras e o castigo aplicado. Alterada no enredo, no tempo e no lugar, ainda é relembrada pelos velhos sertanejos.
Abaixo: Foto raríssima do bando de Antônio Silvino, Pereiras ou dos Viriatos. Década de 10. Você já tinha visto nesta qualidade?
Acervo: Dr. Leandro Cardoso.