Lição de boas maneiras do Capitão Antônio Silvino no RN Fazendas “ROSÁRIO”, “BOCADINHO” e “ADEQUE”

outubro 20, 2024

Transcrito do Blog do Cobra O Capitão voltou a “Rosário”.

Transcrito do Blog do Cobra

O Capitão voltou a "Rosário". Em seguida, demandou a Vila de Santana do Matos. Hospedou-se no Sítio "Bocadinho" de Manoel Baracho, na periferia da vila. Asseclas abrigaram-se à sombra da grande tamarineira em frente à residência. Após o almoço, fizeram a sesta. Ao pôr do sol, saíram, a pé, na direção de Jucurutu.

O bando, faminto, caminhava dentro da noite, fustigado por neblina impertinente. A temperatura esfriava. Parou à margem da estrada, no sítio "Adequê", de Antônio Baracho, no município de Santana do Matos.

O Capitão Antônio Silvino bateu na porta repetidas vezes. Após longa espera, ouviu uma voz feminina.

- Quem é? Perguntou uma voz de mulher.

- Capitão Silvino, respondeu. Sou de paz. Não tenha medo. Abra a porta. Sua casa está protegida.

Em pouco tempo, surgiu uma senhora com uma lamparina à mão.

- Cadê seu marido?

- Viajou. Estou com minhas filhas.

- Como é seu nome?

- Anísia.

- Que tem pra gente cumê? Somos treze.

- Tenho farinha e galinhas no poleiro.

- Está bem, pode preparar.

Passado algum tempo, ela anunciou:

- Seu Capitão, a comida está pronta.

- Pode botar. Iniciada a ceia.

Um dos presentes voltou-se para a dona- da-casa e reclamou em tom galhofeiro:

- Ô comê ruim... está insosso... A sertaneja esquecera-se do sal.

Contrariado, Silvino repreende o comparsa:

-Seus modos não me agradam. Você não tem direito de reclamar desta mulher que, além de pobre, tem filhos a criar e está nervosa com estranhos em casa. De boa vontade, nos atendeu a estas horas. Ela merece consideração.

Todavia, o cabra ignorou a advertência e continuou a zombetear. Silvino volta-se para a mulher e pergunta:

- A senhora tem sal na cozinha?

-Tenho sim sinhô, respondeu a velha senhora.

-Traga um pouco., pediu o Capitão Silvino

Logo, foi atendido. Ele recomendou a mulher:

-Tire o prato daquele moço e ponha outro com o sal, no seu lugar.

Sem se dar por achado, o cabra reclamou:

- É isso que eu vou cumê?

De rifle engatilhado, o Capitão Antônio Silvino encarou-o com firmeza:

- É isso mesmo. Coma, pra você aprender a se comportar na casa dos outros.

De cara fechada, o jovem serviu-se de pequena porção, repetida diante de nova ameaça. Voltou a cear. Os demais estavam em silêncio. Os veteranos da caterva recordavam-se do episódio da Fazenda "Riacho do Sangue", na Paraíba. Num gesto de censura, Antônio Silvino, à mesa, matara o bandido que desafiou sua autoridade.

Era Junho, mês de inverno. Lá fora vagalumes riscavam a escuridão. O canto dos grilos, o ruído das folhas agitadas pela brisa e o chiado dos respingos de chuva quebravam a monotonia daquela ceia.

Silvino quis pagar a despesa. Não conseguindo, se despede, dizendo o costumeiro refrão:

- Em sua casa ninguém bole. Se alguém tentar, me avise onde eu estiver.

Passava de uma hora da madrugada, quando o grupo partiu, debaixo de forte neblina.

Essa história espalhou-se no Estado. Comentava-se a lição de boas maneiras e o castigo aplicado. Alterada no enredo, no tempo e no lugar, ainda é relembrada pelos velhos sertanejos.

Abaixo: Foto raríssima do bando de Antônio Silvino, Pereiras ou dos Viriatos. Década de 10. Você já tinha visto nesta qualidade?

Acervo: Dr. Leandro Cardoso.

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