Lembrando Pelé
Alex Medeiros – Jornalista e Escritor [alexmedeiros1959@gmail.

Alex Medeiros - Jornalista e Escritor [alexmedeiros1959@gmail.com ]
Numa noite distante já há dez anos, eu tive o prazer e o privilégio de conversar com o rei Pelé. Ele jantava com amigos no Restaurante Magary, no bairro Itaim, em São Paulo, um dos locais preferidos para o jantar de celebridades, políticos e empresários nacionais. Eu estava em casa, dando os primeiros passos no rumo de Morfeu, vencido pela monotonia de um filme de suspense.
O telefone tocou e quando percebi estava num papo com Ele. A conversa iniciou naquela formalidade natural entre interlocutores que jamais haviam se falado, mas logo se tornou uma conversa solta – graças à generosidade monárquica de Pelé e também quando informei que conhecia Miguel de Lima.
De imediato o rei falou: “Miguel é meu irmão”. Eu já sabia disso, e fiz questão de inserir o ex-goleiro do Vasco na conversa. Um cidadão do mundo, Miguel é filho de Macaíba e sua amizade com Pelé vem dos anos de juvenil de ambos.
O melhor momento do papo foi saber que Pelé havia recebido os exemplares do livro “Todos Juntos, Vamos – Memórias do Tri”, que lancei em 2002. Agradeceu o oferecimento que escrevi num deles. Eu devolvi o agradecimento.

Afinal, o livro só existe porque houve a Copa de 1970, porque o Brasil venceu e porque foi Ele o responsável direto pela conquista. Agradeci por Ele existir e falar comigo. Não fosse o rei, minha geração teria se metido com o baseball.
Naquela sexta-feira, durante a tarde inteira, Pelé participou de um evento em que atraiu investidores internacionais do setor turístico. E foi ali, antes do jantar no Restaurante Magary, que concedeu polêmica entrevista à rádio Jovem Pan.

Minutos depois da nossa conversa, pude perceber que nos sites de jornais europeus e argentinos já estava o resultado da sua entrevista. Pelé havia criticado Maradona, mais uma vez, e inserindo dois brasileiros na polêmica.
A Jovem Pan quis saber sua opinião sobre drogas no ambiente do futebol. “Você não pode generalizar, só por causa de dois ou três casos como os de Maradona, Ronaldo e Robinho”. Bingo! A fala do rei espalhou-se como pólvora.
No domingo, o fato já era capa em jornais de Milão, Madrid, Londres e, claro, Buenos Aires. “Pelé acusa Ronaldo e Robinho de consumirem cocaína”, estampou o Marca. “Pelé critica de novo o melhor da História”, exagerou o Olé.
Imaginem a oportunidade que eu perdi, por causa do sono. Provavelmente, naquela noite avançada, não eram poucos os jornalistas internacionais buscando uma palavra do rei. Só Ele reverberava tão rápido um comentário.
A ausência das declarações na mídia brasileira foi no mínimo estranha. Afinal, Ele tocou num tabu recorrente na nossa imprensa esportiva, desde o envolvimento de Ronaldo com travestis e o sequestro da mãe do Robinho.
A crítica do rei aos dois brasileiros atropelou o marketing que se fazia na época com Ronaldo, foi na contramão da apologia que a Globo promovia na chegada do atacante ao Corinthians. Atrapalhou a repercussão mundial da fantasia.
A droga na vida de Maradona já era conhecida. Mas muita gente sequer desconfiava que um traficante tinha ligações com Robinho e que bandidos do tráfico carioca falavam em Ronaldo, em telefonemas gravados pela PF do Rio.
Na segunda-feira seguinte, a crítica do rei continuou ignorada na mídia nacional, que costuma não levar a sério a palavra de Pelé. Mas ele colecionava acertos, como o apelo, em 1969, para se cuidar das criancinhas brasileiras.

Em 2006, Ele confessou um mau pressentimento sobre o Brasil na Copa da Alemanha, e o vexame amarelo só não foi pior que 2014. Naquela sexta-feira, eu engoli mosca, por causa do sono. E imprensa brasileira também engoliu, mas por causa do jornalismo de proteção e bem pago no mercado das bolas.
Pelé e Garrincha meus ídolos do futebol, o resto do planeta da bola, estão num patamar muito abaixo.
A seleção brasileira só é bi – campeã, graças à generalidade do Ânjo das pernas tortas. Em 1962 no Chile Mané acalmou Elza dizendo: Vou trazer essa copa o vi- campeonato pra você é todos os brasileiros. A seleção brasileira e a Italiana são bi campeãs do mundo. A seleção brasileira cinco vezes campeã do mundo nunca foi tri, tetra e nem penta. ISSO É fake.