Jeff findou, se foi…

agosto 11, 2024

Mariana Lima Rodrigues – Psicanalista e, nas horas vagas, escritora Jeff era o dono de um abraço cheiroso e generoso e de um sorriso sincero e maravilhoso.

Foto Ilustrativa

Mariana Lima Rodrigues – Psicanalista e, nas horas vagas, escritora

Jeff era o dono de um abraço cheiroso e generoso e de um sorriso sincero e maravilhoso. O conheci frequentando o Outback Natal, lugar que eu vou sempre que encontro uma brechinha na minha louca agenda.

Eu sempre admirei o ofício de garçom, por ser uma profissão que enxerga os indivíduos nos mais diferentes níveis de humanidade. Não existia uma única vez que ele me visse sentada no balcão que não viesse me surpreender com seu afeto e carinho. A recíproca era mais que verdadeira.

Sinto que foi aos poucos que fui construindo uma amizade com ele. Ele me parecia reservado, mas transmitia um 'vale a pena ter como amigo'. Eu estava certa! Que privilégio o meu!

Hoje, eu acordei e fui conversar com pessoas queridas sobre o tema: Pânico; falei a manhã inteira sobre os desamparos humanos e a possibilidade de experimentar uma sensação em queda livre que algumas situações nos provoca. Falei sobre a vulnerabilidade que rodeia nossa existência e sobre o amparo que precisamos ter pra não colapsar.

Depois de uma manhã bastante produtiva, recebi uma mensagem que trincaria meu chão: Jeff estava no hospital, alguma coisa aconteceu com o dono naquele sorriso sincero. Automaticamente lembrei que terça-feira passada eu o abracei fortemente e me alegrei em vê-lo enquanto almoçava antes de ir trabalhar; se eu fechar os olhos ainda posso sentir o cheiro e o abraço quase que fisicamente (queira Deus que essa sensação não passe), porque a partir de hoje, eu não vou mais poder tê-la.

Jeff findou, se foi, e vai deixar minhas idas ao Outback mais vazias. Eu não sei como será isso, mas sei que ele se vai deixando uma sensação que lembra, que embora o destino seja a morte, quando o destino se concretiza cedo demais, nos tira o chão, nos deixa desnorteados e com medo.

Jeff é a terceira morte prematura que experiencio na vida, e ele me deixou vulnerável, repensando o que tenho feito, como tenho feito e o que quero fazer. Ele foi, mas deixou uma reflexão que embora seja clichê, precisa de um evento concreto pra nos fazer sentir o abstrato que a vida é.

Jeff foi uma linda flor de um dos canteiros da minha vida, e aos poucos vamos compartilhando a falta que ele vai fazer, pra dar um sentido à sua ausência

Os comentários estão desativados.