HOJE AMANHECI ASSIM

maio 11, 2025

Por José Luiz Ricchetti Hoje amanheci assim: com o coração atravessado por lembranças que não pedi, pensamentos que vieram sozinhos, e saudades que nem sei mais de quem são.

Por José Luiz Ricchetti

Hoje amanheci assim: com o coração atravessado por lembranças que não pedi, pensamentos que vieram sozinhos, e saudades que nem sei mais de quem são.

Pensei nos amores que não vivi — aqueles que chegaram na hora errada, ou partiram antes de se tornarem eternos. Nos gestos de carinho que ficaram presos na garganta, no perdão que adiei por orgulho ou medo, e nas palavras que o tempo levou antes que eu tivesse coragem de dizê-las.

Lembrei das dores, que embora tenham deixado marcas, também me ensinaram a caminhar com mais leveza. Dos risos que compartilhei em tardes que não voltam mais, dos choros que chorei escondido, dos dias de chuva em que tudo parecia mais lento — e dos dias quentes em que quis viver tudo de uma vez, como se o amanhã fosse apenas um eco.

Pensei nos crepúsculos. Ah, os crepúsculos... que sempre chegam como uma despedida silenciosa, tingindo o céu de saudade. E também nos dias frios em que o mundo parecia congelado por dentro, e nos dias em que não se quer fazer nada — e está tudo bem. Porque há também os dias em que queremos fazer tudo, amar demais, perdoar agora, recomeçar de novo.

Lembrei do tempo, esse velho ladrão que corre apressado enquanto tentamos decifrar o mapa da nossa própria alma. Dos projetos que fiz para o futuro e daqueles que o futuro levou antes de nascerem. Das paixões que arderam rápido e se apagaram sem avisar. Dos filhos que crescem, dos netos que chegam com olhos curiosos e um sorriso que parece resposta para tudo.

E dos amigos... alguns ainda por perto, outros já se tornaram lembrança boa. Com eles aprendi que a vida não se mede em anos, mas em instantes compartilhados.

E então, antes do café, pensei também nos amores de hoje — mais calmos, mais silenciosos talvez, mas tão verdadeiros. São feitos de presença, de cumplicidade, de um toque leve no ombro ou de uma palavra dita na hora certa. Não nos atropelam como os de antigamente, mas nos sustentam. São amores que sabem esperar, que cuidam, que ficam. Amores que, mesmo sem alarde, seguem firmes, como quem diz: "Estou aqui".

Hoje amanheci assim, muito grato por tudo. Até pelo que doeu. Porque viver é muito isso: acolher as estações da alma, dançar com o tempo e, quando possível, escrever sobre tudo isso.

Porque a vida — essa danada — segue. E como é maravilhosa!

Os comentários estão desativados.