Gratidão ao Monsenhor Antonio Barros
Artur Coelho – Advogado Agradeço ao Padre Lenilson por ter-me concedido a missão de falar, nesta missa solene, em nome da nossa Paróquia, pelos 25 anos de partida do Monsenhor Barros e seu legado, durante 53 anos, à Paróquia de Sant’Ana e São Joaquim, em São José de Mipibu, quando temos tantos paroquianos com competência, […].

Artur Coelho - Advogado
Agradeço ao Padre Lenilson por ter-me concedido a missão de falar, nesta missa solene, em nome da nossa Paróquia, pelos 25 anos de partida do Monsenhor Barros e seu legado, durante 53 anos, à Paróquia de Sant'Ana e São Joaquim, em São José de Mipibu, quando temos tantos paroquianos com competência, mais do que eu, para tal mister.
É melhor merecer elogios e não recebê-los do que recebê-los sem merecê-los! Foi com esse mesmo pensamento do americano Mark Twain que, numa das inúmeras vezes em que fui designado para homenagear o Monsenhor Barros, iniciei um dos discursos onde teci inúmeros e verdadeiros elogios à vocação sacerdotal de um homem consagrado para a vida religiosa, para o discipulado e que se amolda, com mão à luva, à letra da música religiosa que diz: “antes que tu nasceste te conhecia e te consagrei.”
Entretanto, como o Monsenhor Barros não mais está presente em nosso meio, não farei elogio ao mesmo, porque se tivermos que elogiar alguém, deveremos fazer quando essa pessoa ainda estiver viva para ouvir o elogio. Hoje, as minhas palavras são apenas de gratidão, de agradecimento ao imenso legado deixado por um sacerdote que foi exemplo de pastor para o seu rebanho, para as paróquias circunvizinhas, para a Arquidiocese de Natal e para os sacerdotes que tiveram o prazer de conhecê-lo e de conviver com o mesmo.
Falar sobre o Monsenhor Barros para aqueles que tiveram o privilégio de com ele conviver seria chover no molhado. Por isso que a minha intenção é hoje falar para vocês, crianças, jovens (alguns que sequer tinham nascido à época do seu falecimento), adultos e idosos, presentes nesta Igreja Matriz ou que assistem a esta Santa Eucaristia por meio das redes sociais de nossa Paróquia, que não conheceram Antonio Phóstumo Barros, seu nome civil; Padre Antonio, como permaneceu sendo por muitos assim chamado, ou Monsenhor Barros, a partir do título honorífico eclesiástico que recebeu do Papa pelos relevantes serviços prestados à Igreja Católica.
HISTÓRICO
Monsenhor Barros nasceu em 08 de dezembro de 1914, em Tibau do Sul, neste Estado. Recebeu o sacramento da ordem, ou seja, foi ordenado padre em 25 de outubro de 1941.
Foi nomeado vigário da nossa Paróquia de Sant’Ana e São Joaquim em 1947, tendo assim permanecido durante 53 anos, ou seja, até o seu falecimento em 01 de março do ano 2000, aos 85 anos de idade. Foi o mais longevo e frutuoso paroquiado da nossa Paróquia de Sant’Ana e São Joaquim. Para que vocês tenham uma ideia da relevância do Monsenhor Barros para a nossa Paróquia, Arquidiocese de Natal e para toda a nossa região, após a sua morte, o corpo do Monsenhor Barros foi trasladado de Natal, com início às 11 horas, numa viatura do Corpo de Bombeiros, seguida por vários veículos, passando por diversas cidades e localidades onde desenvolveu atividades como sacerdote, dentre elas, Arenã, Vera Cruz, Monte Alegre, Lagoa Salgada, Brejinho, Laranjeiras do Abdias e Nísia Floresta.
O corpo chegou a nossa cidade às 18 horas, onde grande multidão de paroquianos vindos de todas as comunidades rurais e municípios vizinhos, além de diversas autoridades eclesiásticas, civis e militares, seminaristas, religiosos, religiosas, se concentravam em frente à Igreja Matriz para, com aplausos, canções e orações, receberem o cortejo fúnebre, que durou 7 horas, e participarem do velório, da missa de corpo presente (presidida pelo então Arcebispo Emérito, Dom Nivaldo Monte) e do seu sepultamento, que ocorreu às 22 horas, dentro da própria Igreja Matriz, no altar lateral de Bom Jesus dos Passos.
Já no ano de 1957, o Padre Antonio realizou grande reforma, urgente e necessária, na Igreja Matriz com a retirada dos forros, do assoalho de madeira do coro (que é essa parte onde está o ministério de música) e das escadas das duas torres, substituindo-as por concreto, permanecendo desta forma até os dias atuais, de modo que essas obras de restauração não desfiguraram a estrutura original da nossa Igreja Matriz. Diversas outras intervenções de manutenção, de menor porte, foram realizadas para manter a conservação da nossa Matriz, o cartão postal de nossa cidade, um patrimônio religioso e cultural do povo mipibuense e que é considerada como uma das mais belas e conservadas do nosso Estado. Invoco aqui a passagem bíblica contida no Salmo 69 que diz: “o zelo por tua casa me consome” para, num outro sentido, numa visão de estrutura física de igreja, agradecer ao Monsenhor Barros pelo zelo que o consumiu pela manutenção da nossa Igreja Matriz. Isto tudo sem esquecermos o zelo pelas demais igrejas que compunham a nossa Paróquia, bem como pelas diversas capelas existentes no nosso município e que integram a nossa Paróquia de Sant’Ana e São Joaquim.
Existem algumas frases memoráveis do Monsenhor Barros que revelam a sua ilibada conduta religiosa, moral e social, dentro elas, destaco: “O amor ao próximo é a continuação do amor à Deus”; “A Igreja fundada pelo Cristo vive em nossos dias uma atividade maior do que noutros tempos”; “Eu sou feliz porque sou padre”; “O divórcio é a destruição da família e as vítimas são os filhos do casal”; “A Igreja nunca aprovou e jamais aprovará o aborto”; “Não é mérito construir igrejas, centros sociais, obras de caridade ou escolas”; “Eu gosto muito do povo de São José de Mipibu. É o meu povo. É a minha família”.
Apesar de ser um sacerdote da ala conservadora, era um homem com visão futurista, um homem “além do seu tempo”. Monsenhor Barros tinha em mente que a Igreja não podia resumir-se à sua dimensão espiritual, religiosa, e que a evangelização se complementava com ações concretas de promoção da vida humana, de modo que era necessário o testemunho concreto da fé cristã, necessitando, pois, de evangelizar educando, evangelizar acolhendo e evangelizar socializando. Resumo a visão de igreja dele com uma das frases que citei a pouco: “A Igreja fundada pelo Cristo vive em nossos dias uma atividade maior do que noutros tempos”.
E foi com essa visão futurista que em 05 de março de 1948 o então Padre Antonio fundou o Instituto Pio XII com o objetivo de evangelizar educando e educar evangelizando, crianças e jovens, principalmente os das classes sociais menos favorecidas, de modo que eles também pudessem ter acesso à educação e formação religiosa cristã. E o Instituto Pio XII se mantém em funcionamento até os dias atuais, sendo uma das escolas mais tradicionais da nossa região, reconhecida pela qualidade do ensino, pela moderna pedagogia ali empregada, contando atualmente com mais de 500 alunos.
Ainda com essa visão futurista, o então Monsenhor Antonio Barros fundou, em 1981, o Abrigo Anizia Pessoa, com o objetivo de evangelizar acolhendo, principalmente idosos e enfermos, muitos deles abandonados pela própria família, de modo que eles pudessem ter acesso à promoção da vida humana, à melhoria na qualidade de vida e à formação religiosa cristã. E o Abrigo Anizia Pessoa se mantém em funcionamento até os dias atuais, administrado pelas irmãs da Divina Providência que demonstram amor e compromisso com a vida, sendo uma das casas de acolhimento mais tradicionais da nossa região, reconhecida pela qualidade dos serviços sociais e caritativos que são disponibilizados aos seus mais de 30 acolhidos.
Ainda dentro desse conceito de visão futurista, o Monsenhor Antonio Barros fundou o Centro Social São José (que depois passou a chamar-se Centro Social Monsenhor Barros), com o objetivo de evangelizar socializando, passando a integrar a sociedade mipibuense através de eventos sociais e esportivos, posto que, durante muitos anos, funcionou uma quadra de esportes, palco de diversos campeonatos, inclusive à nível intermunicipal. Mas, sobretudo, de oferecer um espaço para a evangelização, onde os grupos, pastorais, movimentos e serviços pudessem reunir-se para realizar as suas formações religiosas, culturais e sociais. E o Centro Social se mantém em funcionamento até os dias atuais, estando num processo de reestruturação através da construção de uma cozinha semi-industrial e banheiros modernos e com acessibilidade.
Dentre as construções que ele realizou, destacam-se, ainda, a antiga Casa das Irmãs da Divina Providência, a antiga Secretaria Paroquial e o Centro Social, do Bairro Novo.
Apesar das dificuldades em razão das condições de deslocamentos, das estradas viscinais em péssimas condições de conservação, da simplicidade dos meios de transporte, Monsenhor Barros nunca mediu distância para evangelizar o rebanho que Deus lhe confiou. A grandeza da área pastoral nunca foi empecilho para que ele pudesse exercer o seu ministério sacerdotal.
E olhe que além da Igreja Matriz e das inúmeras capelas de São José de Mipibu, ainda exercia o seu pastoreio, concomitantemente, nas então chamadas “freguesias”, ou seja, determinado território geográfico das comunidades paroquianas de Sant’Ana e São Joaquim, que eram as cidades de Monte Alegre, Vera Cruz e Lagoa Salgada. E esses deslocamentos eram feitos, inicialmente, num Jeep, de momentos e histórias inesquecíveis para os mais antigos e, posteriormente, numa versão mais futurista em relação ao Jeep, num fusca, de histórias hilariantes e memoráveis para os mais novos (atualmente não tão novos).
Quero ressaltar o empenho, o esforço, a dedicação pessoal e o uso do seu prestígio e influência, por ser uma das maiores lideranças religiosas da nossa região, para mobilizar todo um aparato das forças de segurança pública municipal, estadual e até federal para a recuperação das imagens seculares, valiosas por serem de estilo barroco do século XVIII, entalhadas em madeira e policromadas, e hoje tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e dos objetos sacros (4 castiçais de prata trabalhada, 1 crucifixo e 1 resplendor do sacrário) que foram furtados da nossa Igreja Matriz na noite do dia 11 de junho de 1977.
As imagens foram reentronizadas em seus nichos da Igreja Matriz em 13 de novembro de 1977, praticamente 4 meses depois de serem furtadas. As imagens sacras que foram furtadas da nossa Igreja Matriz são as de Sant’Ana e São Joaquim, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora da Conceição, considerada a mais valiosa no mercado de artes sacras.
Quero ressaltar, também, a devoção, o amor, o zelo e a dedicação pessoal à festa dos nossos padroeiros, Sant’Ana e São Joaquim, a quem ele se referia, com o entusiasmo que lhe era peculiar, de excelsos padroeiros. Monsenhor Barros impulsionava e fazia crescer, a cada ano, a festa dos padroeiros, buscando sempre o engajamento dos católicos da nossa Paróquia e de outras paróquias. O seu esforço era visível para integrar as pastorais, os grupos, os movimentos e os serviços na vida pastoral e missionária da Igreja.
Não poderia, de forma alguma, deixar de destacar o visível e admirável amor que o Monsenhor Barros tinha pela eucaristia, pelo Jesus Eucarístico, pela necessidade de vivermos plenamente a vida eucarística. E essa dimensão eucarística chegou, inclusive, ao cume de realizar, no ano de 1986, o 2º Congresso Eucarístico Paroquial.
Revela-se necessário, ainda, enaltecer a visão acolhedora do Monsenhor Barros de tantos jovens que foram por ele convidados a morar na Casa Paroquial, disponibilizando aos mesmos formação educacional, cristã e humana, inclusive alguns foram direcionados à vida vocacional tornando-se padres; outros, ingressaram na vida religiosa; outros se tornaram catequistas, líderes comunitários ou agentes de pastoral.
Provavelmente, ao final das minhas palavras, eu seria aplaudido por está representando a Paróquia. Mas, hoje, os aplausos não devem ser para mim, mas unicamente para o Monsenhor Antonio Barros. As minhas palavras são de reconhecimento e gratidão a ele por sua dedicação a nossa paróquia, por seu exemplo de pastoreio, pelo imenso legado deixado para os seus contemporâneos, e, principalmente, para vocês que não tiveram o prazer de conhecê-lo pessoalmente, mas que conhecem a sua história e os benefícios que suas obras fizeram, e continuam a fazer, para todo o município de São José de Mipibu e cidades vizinhas. Assim, fiquemos todos de pé, voltemos os nossos olhares para o altar lateral de Bom Jesus dos Passos onde o corpo do Monsenhor Barros está sepultado e, num gesto de eterna gratidão, ovacionemos o Monsenhor Barros com uma calorosa salva de palmas.
