Franklin Jorge - Jornalista e Escritor

O que fica é a Obra ou o fruto de nossas ações, lembrava-me frequentemente a minha avó. Em meus verdes anos de menino rural, no Estevão, uma terra que me parecia o mundo vasto ignoto

Bens naturais não suplantam nem subsistem às criações do intelecto, dizia, e dava-me como exemplo algumas famílias ilustres que em tempos idos e vividos mandavam e desmandavam no Ceará-Mirim e já agora, seus netos e bisnetos viviam das lembranças de um tempo passado e para sempre perdido. Porque o que lhes davam prestigio e projeção eram de natureza material e, portanto, efêmera e corruptível e fadada ao desaparecimento e esquecimento.

Que história teria o Engenho Oiteiro sem o livro de Dona Madalena Antunes, para falar-lhe a imortalidade que resulta do esforço do intelecto? E o Engenho Verde Nasce, sem as memórias desse notável proustiano que se fez imortal por sua obra, Nilo Pereira? E Massangana? Que seria sem o registro literário do Conselheiro Joaquim Nabuco? E o que seria o Vale do Açú sem os olhares percuvientes dos escritores Manoel Rodrigues de Melo e Maria Eugênia Maceira Montenegro? E as casas-grandes e as senzalas sem o gênio dele, Gilberto Freire...? Apenas ruínas esquecidas sem nenhum laivo de memória ou de vida...

De fato, o espírito é vida. E a palavra vivifica.

Gostava de ouvi-la, falando assim. Em sus bela e poderosa voz de Contralto. Muito usada o Canto Lírico e, especialmente, nas Óperas para representar mulheres poderosas, Rainhas, Sibilas, Bruxas e Sábias. Em seu tempo de normalista, em Natal, sua voz despertou o interesse do Maestro italiano Tommaso Babbini, que se ofereceu como professor para adestrar-lhe a voz e instruí-la no Canto Lírico, pois se apercebera de seu extraordinário talento e até previra que a aplaudiriam ao interpretar alguma personagem marcante na Ópera de Milão...

Dentre todas as artes, tinha em grande conta a literatura, porque as palavras refeitas de espírito e lapidadas pelo talento, duram tanto quanto o bronze.