Fique rico, seja feliz no amor e mande os outros se foderem!
CEFAS CARVALHO – Jornalista e Escritor Na semana passada aconteceu a FLIQ – Feira de Livros e Quadrinhos de Natal, que reuniu durante quatro dias, no Parque das Dunas, centenas, talvez milhares, de escritores/escritoras, editores/editoras e leitores/leitoras, além de estudantes e autoridades para celebrar a Literatura Potiguar e Nacional.

CEFAS CARVALHO - Jornalista e Escritor
Na semana passada aconteceu a FLIQ – Feira de Livros e Quadrinhos de Natal, que reuniu durante quatro dias, no Parque das Dunas, centenas, talvez milhares, de escritores/escritoras, editores/editoras e leitores/leitoras, além de estudantes e autoridades para celebrar a Literatura Potiguar e Nacional. No encontro, relancei dois livros, encontrei gente querida, coneci gente bacana, me atualizei sobre a produção literária local.
E aproveitei para conferir nos estandes de livrarias, livros diversos, potiguares, nacionais. E também para conferir, lendo as indicações nos cartazes, quais os “Mais vendidos” do Brasil no momento. Não que tenha sido uma surpresa, mas parei para refletir que a quase totalidade dos best sellers apontados são de autoajuda e tratam basicamente de três temas: ganhar dinheiro, ser feliz no amor e… mandar as pessoas se foderem, seja lá exatamente o que isso significa.

Vamos lá: de cara saltaram aos olhos títulos como “Do mil ao milhão” (Thiago Nigro) “A sabedoria do dinheiro” (Roberto Navarro), “A Psicologia Financeira” (Morgan House), “Os Segredos da Mente Milionária” (T. Harv Eker) ou “O Homem Mais Rico da Babilônia” (George S. Clason). Não condeno quem procure nos livros maneiras de ganhar dinheiro em um país como o Brasil, de problemas crônicos e que teve a economia devastada por quatro anos com aumento do desemprego e inflação.
Mas tenho por mim que esses livros de ensinamentos à moda “coach” enriquecem mais seus autores que os leitores, que se deparam com teorias demais e ideias que na prática não funcionam (como aquela de enriquecer poupando quinhentos reais por mês, tarefa impossível, claro, para boa parte dos trabalhadores assalariados.
Mas pelo jeito o público consumidor, digo, leitor, não quer só dinheiro, mas também amar e ser feliz. É o que se entende observando tantos livros sobre “ser feliz no amor” entre os mais vendidos. São títulos como “As cinco linguagens do amor” (Gary Chapman), “O rascunho do amor” (Austin Siegemund-Broka e Emily Wibberley), “É assim que acaba” e ”É assim que começa” (ambos de Colleen Hoover), entre a autoajuda e o romance de ficção, mostrando que o mercado editorial está ligado nas carências afetivas que, enfim, todos nós temos. O que me perturba é que conhecer alguém e se aproximar (e depois manter essa paixão no formato de um relacionamento) não me parece um processo que possa ser, digamos, ensinado por escritores/psicólogos (ou coachs, argh!).
Para finalizar o tríptico de temas best-sellers está o fascínio do mercado (e dos leitores, deduzo) pela palavra “foda-se”. Não que eu tenha, como leitor de autores undergrounds desde tenra idade, pudor com termos chulos, mas considero estranho esse “filão” do mercado editorial de que é satisfatório ou terapêutico mandar outras pessoas “se foderem” ou usar o termo como autoelogio.

Vejamos os livros de sucesso do momento: o já, digamos, clássico “A Sutil Arte de Ligar o F*da-Se: Uma estratégia inusitada para uma vida melhor” (Mark Manson, que também escreveu depois “F*deu geral”), “Seja foda!” e “Enfodere-se” (ambos de Caio Carneiro) ou “Foda-se meus medos” (Adilson Novaes).
Considero que realmente não se importar com opiniões alheias e ter autoestima elevada são pontos fundamentais para se viver bem, mas essa necessidade de construir esse processo com palavras grosseiras e uma atitude aparentemente deliberada de agredir o outro remete ao pior do bolsonarismo com sua exaltação de palavrões e agressões como bravatas. Será um signo dos tempos? Enfim, não li e não gostei.
PS: Gente querida que acompanha meus escritos e que sabe de minha propensão para dar pitaco em tudo, perguntou: se vou comentar sobre a crise na Faixa de Gaza com o ataque do Hamas e a retaliação violenta de Israel aos palestinos. A resposta é: não! O assunto é por demais complexo e remete a milhares de anos de ódios e de uma geopolítica intrincada (que envolve o pós-segunda guerra, os EUA, o islamismo e petróleo). Não se trata de Fla x Flu ou de escolher um lado para “torcer”.
O Governo (canalha de extrema direita) de Israel é uma coisa, a população israelense é outra. O Hamas (grupo terrorista) é uma coisa, a população palestina é outra. No fim das contas, quem morre mais é a população civil inocente, mulheres, idosos e crianças.