Fique rico, seja feliz no amor e mande os outros se foderem!​

outubro 15, 2023

CEFAS CARVALHO – Jornalista e Escritor Na semana passada aconteceu a FLIQ – Feira de Livros e Quadrinhos de Natal, que reuniu durante quatro dias, no Parque das Dunas, centenas, talvez milhares​, de escritores/escritoras, editores/editoras e leitores/leitoras, além de estudantes e autoridades para celebrar a Literatura Potiguar e Nacional.

CEFAS CARVALHO - Jornalista e Escritor

Na semana passada aconteceu a FLIQ – Feira de Livros e Quadrinhos de Natal, que reuniu durante quatro dias, no Parque das Dunas, centenas, talvez milhares​, de escritores/escritoras, editores/editoras e leitores/leitoras, além de estudantes e autoridades para celebrar a Literatura Potiguar e Nacional. No encontro, relancei dois livros, encontrei gente querida​, coneci gente bacana, me atualizei sobre a produção literária local.

E aproveitei para conferir nos estandes de livrarias​, livros diversos, potiguares, nacionais. E também para conferir, lendo as indicações nos cartazes, quais os “Mais vendidos” do Brasil no momento. Não que tenha sido uma surpresa, mas parei para refletir que a quase totalidade dos best sellers apontados ​são de autoajuda e tratam basicamente de três temas: ganhar dinheiro, ser feliz no amor e… mandar as pessoas se foderem, seja lá exatamente o que isso significa.

Vamos lá:​ de cara saltaram aos olhos ​títulos como “Do mil ao milhão” (Thiago Nigro) “A sabedoria do dinheiro” (Roberto Navarro), “A Psicologia Financeira​” (Morgan House​), “​Os Segredos da Mente Milionária​” (T. Harv Eker​) ou​ “O Homem Mais Rico da Babilônia​” (George S. Clason​). Não condeno quem procure nos livros maneiras de ganhar dinheiro em um país como o Brasil, de problemas crônicos e que teve a economia devastada por quatro anos com aumento do desemprego e inflação.

Mas tenho por mim que esses livros de ensinamentos à moda “coach” enriquecem mais seus autores que os leitores, que se deparam com teorias demais e ideias que na prática não funcionam (como aquela de enriquecer poupando quinhentos reais por mês, tarefa impossível, claro, para boa parte dos trabalhadores assalariados.

Mas pelo jeito o público consumidor, digo, leitor, não quer só dinheiro, mas também amar e ser feliz. É o que se entende observando tantos livros sobre “ser feliz no amor” entre os mais vendidos. São títulos como “As cinco linguagens do amor​” (Gary Chapman​), “O rascunho do amor​” (Austin Siegemund-Broka​ e Emily Wibberley),​ “É assim que acaba​” e ​”É assim que começa​” (ambos de Colleen Hoover​), entre a autoajuda e o romance de ficção, mostrando que o mercado editorial está ligado nas carências afetivas que, enfim, todos nós temos. O que me perturba é que conhecer alguém e se aproximar (e depois manter essa paixão no formato de um relacionamento) não me parece um processo que possa ser, digamos, ensinado por escritores/psicólogos (ou coachs, argh!).

Para finalizar o tríptico de temas best-sellers está o fascínio do mercado (e dos leitores, deduzo) pela palavra “foda-se”. Não que eu tenha, como leitor de autores undergrounds desde tenra idade, pudor com termos chulos, mas considero estranho esse “filão” do mercado editorial de que é satisfatório ou terapêutico mandar outras pessoas “se foderem” ou usar o termo como autoelogio.

Vejamos os livros de sucesso do momento: o já, digamos, clássico “A Sutil Arte de Ligar o F*da-Se: Uma estratégia inusitada para uma vida melhor​” (Mark Manson, que também escreveu depois “F*deu geral”​), “Seja foda!” e “Enfodere-se” (ambos de Caio Carneiro) ​ou “F​oda-se meus medos”​ (Adilson Novaes​).

Considero que realmente não se importar com opiniões alheias e ter autoestima elevada são pontos fundamentais para se viver bem, mas essa necessidade de construir esse processo com palavras grosseiras e uma atitude aparentemente deliberada de agredir o outro remete ao pior do bolsonarismo com sua exaltação de palavrões e agressões como bravatas. Será um signo dos tempos? Enfim, não li e não gostei.

PS: Gente querida que acompanha meus escritos e que sabe de minha propensão para dar pitaco em tudo, perguntou: se vou comentar sobre a crise na Faixa de Gaza com o ataque do Hamas e a retaliação violenta de Israel aos palestinos. A resposta é: não! O assunto é por demais complexo e remete a milhares de anos de ódios e de uma geopolítica intrincada (que envolve o pós-segunda guerra, os EUA, o islamismo e petróleo). Não se trata de Fla x Flu ou de escolher um lado para “torcer”.

O Governo (canalha de extrema direita) de Israel é uma coisa, a população israelense é outra. O Hamas (grupo terrorista) é uma coisa, a população palestina é outra. No fim das contas, quem morre mais é a população civil inocente, mulheres, idosos e crianças.

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