Festas Natalinas em São José de Mipibu em épocas passadas

dezembro 26, 2021

Fomos buscar no Baú do Arquivo do Jornal O Alerta e encontramos textos publicados por mipibuenses que fazem uma viagem saudosistas às Festas Natalinas em São José de Mipibu, em épocas passadas.

Fomos buscar no Baú do Arquivo do Jornal O Alerta e encontramos textos publicados por mipibuenses que fazem uma viagem saudosistas às Festas Natalinas em São José de Mipibu, em épocas passadas. Vale a pena lê, só não vale, chorar. Boa leitura.

Ciclo Natalino na cidade de São José de Mipibu

Parque de Manoel Cachorro Quente animava a garotada
FOTO: ARQUIVO LUCIA AMARAL

Texto de Zé Hilton Gurgel - Aposentado

            No meu tempo de criança, uma das festas mais aguardadas por todos nós era o Ciclo Natalino, onde a município se preparava para receber milhares de visitantes que se dirigiam para a nossa cidade no último dia do ano. Esse período, de 23 a 31 de dezembro era repleto de surpresas, como barracas cobertas de palhas de coqueiros, contornando a Praça Desembargador Celso Sales, onde se vendiam de tudo, desde bebidas, conhecidas como aluá, que era feita principalmente de abacaxi e maracujá, cestinhas contendo castanha de caju e rolete de cana.            

 Para entreter o povo, tinha o parque de diversões do senhor Manoel Cachorro Quente, como era conhecido, onde havia  vários pontos de jogos, de pescaria e de pontaria. Tinha a apresentação do famoso Pastoril, com a grande disputa entre os cordões "encarnado e azul", sempre com a animação impecável de Pedro Freire, conterrâneo que residia no Rio de Janeiro e fazia questão de estar presente em sua terra de coração

Foto Ilustrativa - Foto: Profº José Costa

O ápice dos festejos era o dia 31, pois logo a partir 17 horas começavam a chegar diversas caravanas de várias cidades vizinhas, pois nossa cidade era a única da região onde se fazia uma despedida do ano com festa. Havia o baile na Associação Esportiva Mipibuense que iniciava às 21h30 e às 11h45 havia um intervalo de aproximadamente duas horas para que todos os presentes fossem ao centro da cidade para assistirem, o que chamávamos de passagem do ano, que era uma peça de fogos de artifício muito bem preparada pelo Senhor Lulu Davino, pirotécnico como ele se auto-definia e não fogueteiro como muitos o chamavam.


Animados bailes de fim de ano eram realizados na Associação Esportiva Mipibuense

            Após a queima de fogos, havia a missa celebrada pelo então padre Antônio Barros. Tempo bom, somente com muita diversão e nenhuma violência. No dia seguinte, primeiro do ano, havia uma correria com destino principalmente para a Lagoa do Bonfim onde todos iam pedir a proteção Divina para o Novo Novo.

O brilho, as luzes e o encantamento da arte de seu Lulu Davino

Texto de Amauri Freire - Pesquisador de cultura e história mipibuense

Houve um tempo em São José de Mipibu em que as festividades de virada de ano eram de uma beleza e de um valor inestimáveis, tanto do ponto de vista religioso, como  turístico, artístico e cultural.

            Naquela época a Paróquia de Santana e São Joaquim, (capitaneada pelo saudoso monsenhor Antônio Barros), reinava na região Agreste/Litoral, monopolizando praticamente muitas das atividades religiosas, fato este que  trazia centenas e milhares de fiéis das cidades vizinhas. Monte Alegre, Vera Cruz, Lagoa Salgada, Lagoa de Pedras e Boa Saúde, ligadas à paróquia, além de; Nísia Floresta, Goianinha, Parnamirim, Canguaretama e até da capital, Natal, atraídas por uma festividade única na região - a virada de ano nas terras de Mipibu.

            O transporte e as estradas eram precários e muita gente vinha de caminhão ou de pau-de-arara, literalmente, engolindo poeira por dezenas de quilômetros pelas brenhas perigosas, esburacadas e escuras que separavam aquelas cidades.

           
            O ápice dessa grande festa era a queima de fogos produzida por Seu Lulu Davino, com seus engenhos pirotécnicos compostos por girândolas rotativas de cores e brilhos variados. Para quem não se lembra as luzes do centro da cidade eram apagadas minutos antes da meia noite, e a praça inteira permanecia em silêncio aguardando a última badalada do sino, indicando o primeiro segundo do ano vindouro. Nesse exato instante seu Lulu disparava seu foguetório dando início a um espetáculo sem igual, prendendo a atenção de todos que lotavam a praça da Matriz. O espetáculo era curto, durava no máximo 10 minutos, tempo suficiente para as luzes e fogos produzidas por belíssimas girândolas iluminarem toda a área da praça, desfraldando no final belas mensagens alusivas ao ano que se iniciava naquele instante. Só então o monsenhor Antônio Barros dava início a primeira grande missa do ano, missa campal, com toda a área central da cidade apinhada de fiéis.

            Seu Lulu, um mipibuense nato cujo nome verdadeiro era Luiz Gonzaga de Souza, aprendeu com o pai Joca Davino, que também era mestre fogueteiro, a arte da pirotecnia. (Seu Joca Davino faleceu praticando seu ofício, vitimado por uma explosão ocorrida em sua oficina de fogos).
Com a morte do pai, seu Lulu assumiu o comando dos trabalhos e durante várias décadas foi o responsável por toda a beleza da grande festa de fim de ano de São José de Mipibu, criando verdadeiras obras de arte que iluminaram durante muito tempo aquelas noites inesquecíveis.

Fotografias gentilmente cedidas por Eliane (in memoriam), filha de seu Lulu.

Com a morte do grande mestre essa belíssima festa jamais se repetiu nas terras de Mipibu. Atualmente as festividades se resumem a meras explosões de fogos de artifício, sem a beleza nem o brilho que só ele sabia fazer, e as atividades de igreja se resumem a missas intercaladas durante a noite de Ano Novo, abolindo a grande missa campal que tomava todos os espaços das três grandes praças.

Éramos felizes e nem sabíamos...

Texto de Edilson Avelino (Didi Avelino)

“Eu daria tudo que tivesse
Pra voltar aos tempos de criança
Eu não sei por que é que a gente cresce
Se não sai da gente essa lembrança...

Foi necessário apropriar-me, momentaneamente, dos versos do mestre Ataulfo Alves para ilustrar o que vivenciei na minha adolescência em São José de Mipibu, especialmente, nas festividades de Natal e Ano Novo...


Lá pelos idos anos setenta, morava numa chácara, aproximadamente, dois quilômetros de distância do centro da cidade. De lá, com o auxílio dos ventos, ouvia-se os auto falantes e as badaladas do sino da Matriz de Sant’Ana e São Joaquim, nossos padroeiros, anunciando as horas, os avisos fúnebres e os grandes eventos. Quando chegava dezembro, tornavam-se mais frequentes os anúncios, o que provocava em nós ansiedade e expectativa de participar dos festejos que se aproximavam.

Músicas natalinas inundavam o ar, uma movimentação frenética na Matriz e no seu entorno, a Associação Esportiva Mipibuense se enfeitava para os tradicionais bailes de Natal e Reveillon, as tradicionais barraquinhas de jogos, brinquedos e comidas típicas começavam a serem montadas, o famoso e folclórico parque de diversões de Manoel Cachorro Quente tomava o seu espaço nobre na praça, enfim, ia-se preparando o cenário para as melhores festas do ano!

Dois momentos marcantes desses festejos era a chegada e a volta pra casa dos mipibuenses moradores do entorno da cidade, dos distritos e cidades vizinhas...  Lindo de se ver! E oravam, e cantavam e brincavam por toda noite, como se quisessem exorcizar todos os sacrifícios feitos ao longo do ano que findava. De branco, com seus calçados na mão, famílias inteiras tomavam a cidade de alegria e fé, retornando às suas casas ordeira e pacificamente! Era raro se ter conhecimento de alguma desordem ou violência, em toda a festa! Bons tempos aqueles...

Mentor espiritual, à época, Monsenhor Barros, nosso inesquecível padre Antônio, liderava e comandava os festejos religiosos, contando sempre com o auxílio precioso de lideranças comunitárias, grupos de jovens e nomes que ficaram marcados na história da cidade, como o de Seu Lulu, responsável pela principal atração da passagem de ano: um espetacular show pirotécnico, anunciando o primeiro dia do calendário vindouro! A expectativa do show, a contagem regressiva, o suspense criado pelos autofalantes, davam um tom de chegada de nave espacial no largo da Matriz! Ao final, abraços, vivas, saudações coletivas, um banho de energia positiva contagiava a todos. Quem tinha o privilégio de estar na sacada da Matriz podia desfrutar da beleza total da festa e se envolver com seus desdobramentos.

Saudoso Monsenhor Antonio Barros

 No dia seguinte, 1º de janeiro, era dia de resenha na Praça Monsenhor Paiva. Havia muito a se comentar do dia anterior, pois ainda estávamos todos contagiados pelo sucesso e grandeza da festa.

É lamentável que, paulatinamente, os festejos de fim de ano em São José de Mipibu tenham perdido o seu encanto, seu brilho e destaque, conquistado em toda a região agreste por tantos anos. Culpar a crise ou a violência pelo “desmanche” das tradicionais festas da cidade é simplificar demasiadamente uma justificativa que tem mais a ver com a incapacidade organizacional e de liderança dos responsáveis pelo setor. Perde a cidade, perdemos todos nós que a amamos.

2 respostas para “Festas Natalinas em São José de Mipibu em épocas passadas”

  1. José Olavo Ribeiro disse:

    Boas lembranças!

  2. Didi Avelino disse:

    Grato ao amigo José Alves, nosso querido “Dedé do Alerta”, pela reedição do nosso comentário.
    A propósito, gostaria de pontuar que, este ano, apesar das dificuldades enfrentadas, derivadas da pandemia, a administração municipal investiu na decoração natalina como nunca antes.
    Estive em São José, recentemente, e me emocionei, tal o esmero com que os responsáveis pelo setor adornaram praças, edifícios e monumentos com bela e colorida iluminação, criando um cenário natalino digno da cidade que outrora, tradicionalmente, encantava seus visitantes durante os festejos pelo aniversário de Jesus.
    Parabéns a todos os envolvidos no planejamento e montagem da ornamentação natalina em São José de Mipibu em 2021, especialmente, à Prefeitura pelo total apoio e incentivo.
    Que nos anos vindouros essa iniciativa se repita e se consolide, fazendo com que a cidade, literalmente, brilhe nessa época do ano.