Festas Natalinas em São José de Mipibu em épocas passadas
Fomos buscar no Baú do Arquivo do Jornal O Alerta e encontramos textos publicados por mipibuenses que fazem uma viagem saudosistas às Festas Natalinas em São José de Mipibu, em épocas passadas.

Fomos buscar no Baú do Arquivo do Jornal O Alerta e encontramos textos publicados por mipibuenses que fazem uma viagem saudosistas às Festas Natalinas em São José de Mipibu, em épocas passadas. Vale a pena lê, só não vale, chorar. Boa leitura.
Ciclo Natalino na cidade de São José de Mipibu

FOTO: ARQUIVO LUCIA AMARAL
Texto de Zé Hilton Gurgel - Aposentado
No meu tempo de criança, uma das festas mais aguardadas por todos nós era o Ciclo Natalino, onde a município se preparava para receber milhares de visitantes que se dirigiam para a nossa cidade no último dia do ano. Esse período, de 23 a 31 de dezembro era repleto de surpresas, como barracas cobertas de palhas de coqueiros, contornando a Praça Desembargador Celso Sales, onde se vendiam de tudo, desde bebidas, conhecidas como aluá, que era feita principalmente de abacaxi e maracujá, cestinhas contendo castanha de caju e rolete de cana.
Para entreter o povo, tinha o parque de diversões do senhor Manoel Cachorro Quente, como era conhecido, onde havia vários pontos de jogos, de pescaria e de pontaria. Tinha a apresentação do famoso Pastoril, com a grande disputa entre os cordões "encarnado e azul", sempre com a animação impecável de Pedro Freire, conterrâneo que residia no Rio de Janeiro e fazia questão de estar presente em sua terra de coração

O ápice dos festejos era o dia 31, pois logo a partir 17 horas começavam a chegar diversas caravanas de várias cidades vizinhas, pois nossa cidade era a única da região onde se fazia uma despedida do ano com festa. Havia o baile na Associação Esportiva Mipibuense que iniciava às 21h30 e às 11h45 havia um intervalo de aproximadamente duas horas para que todos os presentes fossem ao centro da cidade para assistirem, o que chamávamos de passagem do ano, que era uma peça de fogos de artifício muito bem preparada pelo Senhor Lulu Davino, pirotécnico como ele se auto-definia e não fogueteiro como muitos o chamavam.

Animados bailes de fim de ano eram realizados na Associação Esportiva Mipibuense
Após a queima de fogos, havia a missa celebrada pelo então padre Antônio Barros. Tempo bom, somente com muita diversão e nenhuma violência. No dia seguinte, primeiro do ano, havia uma correria com destino principalmente para a Lagoa do Bonfim onde todos iam pedir a proteção Divina para o Novo Novo.
O brilho, as luzes e o encantamento da arte de seu Lulu Davino
Texto de Amauri Freire - Pesquisador de cultura e história mipibuense
Houve um tempo em São José de Mipibu em que as festividades de virada de ano eram de uma beleza e de um valor inestimáveis, tanto do ponto de vista religioso, como turístico, artístico e cultural.
Naquela época a Paróquia de Santana e São Joaquim, (capitaneada pelo saudoso monsenhor Antônio Barros), reinava na região Agreste/Litoral, monopolizando praticamente muitas das atividades religiosas, fato este que trazia centenas e milhares de fiéis das cidades vizinhas. Monte Alegre, Vera Cruz, Lagoa Salgada, Lagoa de Pedras e Boa Saúde, ligadas à paróquia, além de; Nísia Floresta, Goianinha, Parnamirim, Canguaretama e até da capital, Natal, atraídas por uma festividade única na região - a virada de ano nas terras de Mipibu.
O transporte e as estradas eram precários e muita gente vinha de caminhão ou de pau-de-arara, literalmente, engolindo poeira por dezenas de quilômetros pelas brenhas perigosas, esburacadas e escuras que separavam aquelas cidades.
O ápice dessa grande festa era a queima de fogos produzida por Seu Lulu Davino, com seus engenhos pirotécnicos compostos por girândolas rotativas de cores e brilhos variados. Para quem não se lembra as luzes do centro da cidade eram apagadas minutos antes da meia noite, e a praça inteira permanecia em silêncio aguardando a última badalada do sino, indicando o primeiro segundo do ano vindouro. Nesse exato instante seu Lulu disparava seu foguetório dando início a um espetáculo sem igual, prendendo a atenção de todos que lotavam a praça da Matriz. O espetáculo era curto, durava no máximo 10 minutos, tempo suficiente para as luzes e fogos produzidas por belíssimas girândolas iluminarem toda a área da praça, desfraldando no final belas mensagens alusivas ao ano que se iniciava naquele instante. Só então o monsenhor Antônio Barros dava início a primeira grande missa do ano, missa campal, com toda a área central da cidade apinhada de fiéis.
Seu Lulu, um mipibuense nato cujo nome verdadeiro era Luiz Gonzaga de Souza, aprendeu com o pai Joca Davino, que também era mestre fogueteiro, a arte da pirotecnia. (Seu Joca Davino faleceu praticando seu ofício, vitimado por uma explosão ocorrida em sua oficina de fogos).
Com a morte do pai, seu Lulu assumiu o comando dos trabalhos e durante várias décadas foi o responsável por toda a beleza da grande festa de fim de ano de São José de Mipibu, criando verdadeiras obras de arte que iluminaram durante muito tempo aquelas noites inesquecíveis.

Com a morte do grande mestre essa belíssima festa jamais se repetiu nas terras de Mipibu. Atualmente as festividades se resumem a meras explosões de fogos de artifício, sem a beleza nem o brilho que só ele sabia fazer, e as atividades de igreja se resumem a missas intercaladas durante a noite de Ano Novo, abolindo a grande missa campal que tomava todos os espaços das três grandes praças.
Éramos felizes e nem sabíamos...
Texto de Edilson Avelino (Didi Avelino)
“Eu daria tudo que tivesse
Pra voltar aos tempos de criança
Eu não sei por que é que a gente cresce
Se não sai da gente essa lembrança...
Foi necessário apropriar-me, momentaneamente, dos versos do mestre Ataulfo Alves para ilustrar o que vivenciei na minha adolescência em São José de Mipibu, especialmente, nas festividades de Natal e Ano Novo...
Lá pelos idos anos setenta, morava numa chácara, aproximadamente, dois quilômetros de distância do centro da cidade. De lá, com o auxílio dos ventos, ouvia-se os auto falantes e as badaladas do sino da Matriz de Sant’Ana e São Joaquim, nossos padroeiros, anunciando as horas, os avisos fúnebres e os grandes eventos. Quando chegava dezembro, tornavam-se mais frequentes os anúncios, o que provocava em nós ansiedade e expectativa de participar dos festejos que se aproximavam.
Músicas natalinas inundavam o ar, uma movimentação frenética na Matriz e no seu entorno, a Associação Esportiva Mipibuense se enfeitava para os tradicionais bailes de Natal e Reveillon, as tradicionais barraquinhas de jogos, brinquedos e comidas típicas começavam a serem montadas, o famoso e folclórico parque de diversões de Manoel Cachorro Quente tomava o seu espaço nobre na praça, enfim, ia-se preparando o cenário para as melhores festas do ano!

Dois momentos marcantes desses festejos era a chegada e a volta pra casa dos mipibuenses moradores do entorno da cidade, dos distritos e cidades vizinhas... Lindo de se ver! E oravam, e cantavam e brincavam por toda noite, como se quisessem exorcizar todos os sacrifícios feitos ao longo do ano que findava. De branco, com seus calçados na mão, famílias inteiras tomavam a cidade de alegria e fé, retornando às suas casas ordeira e pacificamente! Era raro se ter conhecimento de alguma desordem ou violência, em toda a festa! Bons tempos aqueles...
Mentor espiritual, à época, Monsenhor Barros, nosso inesquecível padre Antônio, liderava e comandava os festejos religiosos, contando sempre com o auxílio precioso de lideranças comunitárias, grupos de jovens e nomes que ficaram marcados na história da cidade, como o de Seu Lulu, responsável pela principal atração da passagem de ano: um espetacular show pirotécnico, anunciando o primeiro dia do calendário vindouro! A expectativa do show, a contagem regressiva, o suspense criado pelos autofalantes, davam um tom de chegada de nave espacial no largo da Matriz! Ao final, abraços, vivas, saudações coletivas, um banho de energia positiva contagiava a todos. Quem tinha o privilégio de estar na sacada da Matriz podia desfrutar da beleza total da festa e se envolver com seus desdobramentos.

No dia seguinte, 1º de janeiro, era dia de resenha na Praça Monsenhor Paiva. Havia muito a se comentar do dia anterior, pois ainda estávamos todos contagiados pelo sucesso e grandeza da festa.
É lamentável que, paulatinamente, os festejos de fim de ano em São José de Mipibu tenham perdido o seu encanto, seu brilho e destaque, conquistado em toda a região agreste por tantos anos. Culpar a crise ou a violência pelo “desmanche” das tradicionais festas da cidade é simplificar demasiadamente uma justificativa que tem mais a ver com a incapacidade organizacional e de liderança dos responsáveis pelo setor. Perde a cidade, perdemos todos nós que a amamos.
Boas lembranças!
Grato ao amigo José Alves, nosso querido “Dedé do Alerta”, pela reedição do nosso comentário.
A propósito, gostaria de pontuar que, este ano, apesar das dificuldades enfrentadas, derivadas da pandemia, a administração municipal investiu na decoração natalina como nunca antes.
Estive em São José, recentemente, e me emocionei, tal o esmero com que os responsáveis pelo setor adornaram praças, edifícios e monumentos com bela e colorida iluminação, criando um cenário natalino digno da cidade que outrora, tradicionalmente, encantava seus visitantes durante os festejos pelo aniversário de Jesus.
Parabéns a todos os envolvidos no planejamento e montagem da ornamentação natalina em São José de Mipibu em 2021, especialmente, à Prefeitura pelo total apoio e incentivo.
Que nos anos vindouros essa iniciativa se repita e se consolide, fazendo com que a cidade, literalmente, brilhe nessa época do ano.