Alex Medeiros - Jornalista e Escritor - alexmedeiros1959@gmail.com

Em maio de 1977, quando George Lucas lançou o filme Star Wars, grande parte da imprensa o classificou como o melhor do ano. Com o estrondoso sucesso, foi também caracterizado como uma obra destinada à criança que habita cada um, jovens ou adultos. Em novembro do mesmo 77, Steven Spielberg anunciou que estava produzindo um filme sobre a Beatlemania em Nova York, a história de meninas invadindo o hotel onde a banda se hospedou.

O filme era ambientado no ano de 1964, na primeira travessia dos Beatles, destacando o momento crucial da conquista da juventude americana quando o quarteto apareceu ao vivo no programa Ed Sullivan Show, na CBS. E avisou que a direção era de um jovem de 25 anos chamado Robert Zemeckis, numa imitação do que Francis Ford Coppola fez com George Lucas em “Loucuras de Verão”, de 1973. Em abril de 1978, “Febre de Juventude” estreou no mundo.

Spielberg já havia estourado com seus dois primeiros clássicos, “Tubarão” e “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”, o que lhe dava autoridade para prometer que se Zemeckis não acertasse, ele mesmo faria a direção do filme.

O cineasta estreante juntou-se ao amigo Bob Gale e reuniu uma cambada de jovens artistas que tempos depois seriam consagrados, como Nancy Allen, Susan Kendall, Theresa Saldana, Marc McClure, Wendie Jo Sperber e outros.

Mesmo com Spielberg não concordando, o título ficou na canção dos Beatles de 1963, aquela que abriu as portas e os corações da América, “I Wanna Hold Your Hand”, com o roteiro iniciando no histórico dia 9 de fevereiro de 1964.

Os Fab Four desembarcam em solo americano e nas lojas de discos se iniciam os primeiros sinais de que uma onda iria varrer o país. As garotas protagonistas compram discos e planejam como adentrar o auditório da CBS.

O filme junta na aventura juvenil dos fãs uma abordagem didática da histeria em torno dos Beatles. No começo, Ed Sullivan alerta o telespectador: “Esteja preparado para gritos, hiperventilação, desmaios, convulsões e até suicídio”.

As garotas são suburbanas de Nova Jersey e terão que encarar a burguesa Manhattan. São três apaixonadas pela banda e uma que só gosta de folk pela pegada política de Bob Dylan e Joan Baez, e é filha do dono da loja de discos.

A ideia é juntar grana para alugar uma limusine e poder furar o bloqueio para estacionar na porta do hotel dos Beatles. Há dois garotos com elas, um tímido que fará as fotos da loucura e um delinquente que também detesta os Beatles.

São muitas cenas hilárias do início ao fim, tentativas frustradas de invasão do hotel e dos estúdios da TV, alguns êxitos que geraram as cenas mais importantes do filme que não arrebentou bilheterias, mas se tornou clássico.

Aos 27 anos e um estereotipo de cocota, a atriz Nancy Allen faz a diferença numa cena antológica escondida no quarto do quarteto, com direito a um show de fetichismo explícito lambendo copos e se esfregando na guitarra de Paul.

Aos 19, quase na idade da personagem, Wendie Jo Sperber é a mais enlouquecida pela banda. Quase perde o show ao ficar presa no elevador do hotel após conseguir entradas para a TV num programa de respostas no rádio.

Mesmo não tendo sido um dos grandes sucessos no lançamento, Febre de Juventude teve a sorte de sair antes de filmes como “Superman”, “Grease” e “O Céu Pode Esperar”, os campeões de bilheteria naquele 1978 inesquecível.

Publicado na Tribuna do Norte