ELEIÇÕES OUTRA VEZ
NILO Emerenciano – Arquiteto e escritor É uma chatice, concordo com vocês, essa campanha política.

NILO Emerenciano - Arquiteto e escritor
É uma chatice, concordo com vocês, essa campanha política. Traz uma sensação de déjà vu, de já visto. Os santinhos, os carros de som, as mini carreatas, os discursos, os apertos de mão, as promessas, as acusações mútuas, as mentiras de sempre. Vejo pouca televisão, consequentemente apenas vi amostras do horário eleitoral gratuito (?) e é realmente de doer.
Alguma novidade talvez apenas a cadeirada que um candidato aplicou a outro, em pleno disputa para a prefeitura de São Paulo. Aliás, debate em que se tratou apenas de acusações mútuas, de cheirador
de pó a ladrão e estuprador de mulheres, deixando-se de lado ideologias ou projetos de governo.

Mas acreditem em mim, desde sempre o tom das campanhas fugiu do civilizado. Falo de cadeira, pois presenciei algumas. Talvez a mais acirrada tenha sido a do Monsenhor Walfredo Gurgel contra Dinarte Mariz, pelo governo do estado.
As bandeiras verdes e vermelhas invadiam ruas e fachadas das casas. Cartazes, passeatas, vigílias, longas caminhadas, trio elétrico vindo de Salvador, jingles criativos, editoriais nos jornais, Tribuna do Norte de um lado e o Correio do Povo do outro. Emissoras de rádio absolutamente engajadas. Oradores famosos. Odilon Ribeiro Coutinho era um deles. Aluísio Alves, de voz rouca, era um fenômeno popular arrastando multidões que carregavam nas mãos mamoeiros e galhos de mangueira.

Os apelidos eram criados e colavam imediatamente. Cigano, Fechador, Pedro Chinelo, Tamborete. E, claro, apostas, brigas, pedradas e até tiroteios pelo interior do estado. Mas veio o golpe de 64 e uma noite longa se abateu sobre todos nós. As lideranças foram cassadas, os governadores passaram a ser nomeados, partidos foram extintos, o Congresso fechado. A fim de preservar alguma normalidade dois partidos foram permitidos, a Arena e o MDB, que abrigou toda as correntes de oposição.
As campanhas eram feitas de forma discreta. Na TV apenas a foto e o nome dos candidatos. Mesmo assim, aqui no RN Agenor Maria derrotou o favorito Djalma Marinho, político respeitado nacionalmente, por uma vaga no Senado Federal.

Meu jovem título de eleitor esperou muito tempo para que eu pudesse, enfim, em 1989, votar para presidente. E esse primeiro voto a gente nunca esquece. Candidatos em penca, 22 para ser exato. Entre eles Brizola (de volta do exílio), Lula, o candidato oriundo das lutas sindicais, Ulisses Guimarães, Mário Covas, Paulo Maluf, todos faziam um debate politizado.

Como esquecer o Lula-lá, da campanha do PT? Ainda não havia padre Kelmon ou um Pablo Marçal para tumultuar o debate. Enfim, deu no que deu. Um desconhecido Collor de Melo ganhou as eleições para minha tristeza e para o desastre de muitos. Passamos a conviver com confisco de poupança, casa de
Dinda, Zélia Cardoso, PC Farias, cabelo gomalinado, corridas e mensagens em camiseta, e, enfim, denúncias de corrupção e pela primeira vez, impeachment.
Tanta coisa em tão pouco tempo. Muito difícil para os menos informados fazer uma leitura de tudo isso.
Posso estar errado, mas não acho que debates ganhem eleições. Desde Nixon x Kennedy que se criou essa ideia, quando um Nixon mal barbeado e com olheiras enfrentou o jovem Kennedy, um tipo sarado.
Aqui na terrinha poucos tem paciência ou disposição para enfrentar os chatérrimos debates, amordaçados por regras irritantes. Além disso, será que os eleitores vão mudar de ideia só porque o
candidato x saiu-se melhor que o candidato y?

De uma coisa estou certo: as eleições de outrora eram mais divertidas, com os eleitores de cabresto, papelzinho no bolso, trocando o voto por qualquer mimo, até por uma carona, seguindo a orientação dos coronéis. As histórias são muitas, eu também tenho a minha.
Tocava uma obra e tentei fazer a cabeça dos operários para votarem em meu candidato, o que eu achava o melhor. Do mestre de obras ao último ajudante, todos asseguraram que iam seguir a minha orientação. Na véspera, ao sair, ainda perguntei: - Então, tudo certo para amanhã? - Sim, responderam. Fui embora feliz, orgulhoso, achando que tinha dado a minha contribuição, modesta, claro, mas sempre uma contribuição. Qual não foi minha surpresa quando na segunda-feira ao chegar no canteiro de obras soube que tinham votado em outro candidato. - Que houve? Perguntei. - Ah, doutor, a gente tava esperando o ônibus aí parou uma camionete e ofereceu carona a todos nós. Fazer o que? Votamos no candidato do homem da camionete.
Foi assim que encerrei a minha curta incursão pelos caminhos da política e nunca mais tentei influenciar ninguém. Ou vocês acham que vão conseguir fazer um Flamenguista trocar seu clube, mesmo perdendo para o Peñarol, pelo Vasco da Gama? Nem morto!

Ótima dissertação sobre a velha e gostosa disputa das campanhas eleitorais.