EDUCAÇÃO: UMA MISSÃO IMPOSSÍVEL

junho 1, 2025

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa Imagine um lugar onde você precisa ser mestre em cinco disciplinas, e ainda atuar como psicólogo, enfermeiro, animador de festa infantil, especialista em inclusão, atleta olímpico e até conselheiro sentimental.

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa

Imagine um lugar onde você precisa ser mestre em cinco disciplinas, e ainda atuar como psicólogo, enfermeiro, animador de festa infantil, especialista em inclusão, atleta olímpico e até conselheiro sentimental. Bem-vindo à sala de aula brasileira! Ou melhor dizendo: ao ringue em que se transformou a educação pública, onde os professores entram todos os dias com um lápis na mão e um pedido de socorro no coração.

A cada ano, trabalhar com educação parece mais uma prova de resistência. Não há bônus, mas há suor e muito calor, já que ar-condicionado é um item de luxo dentro das escolas públicas. Os professores lutam com falta de material, falta de estrutura e, principalmente, falta de reconhecimento. E para receber aquilo a que têm direito, só com advogado na retaguarda, porque ser professor virou uma gincana jurídica.

Enquanto isto, as crianças são o reflexo de uma sociedade em colapso. Muitos vêm de lares desfeitos, rodeados por violência, drogas e abandono. Chegam à escola carentes de tudo – inclusive de limites. O respeito virou peça de museu e os pais, em muitos casos, delegaram à escola a missão de educar, alimentar, formar caráter, curar traumas e, se sobrar tempo, ensinar a ler, escrever e contar, conforme é a função histórica da escola.

A inclusão de alunos com deficiência, que deveria vir acompanhada de formação e suporte, ocorre na base do improviso, com o famoso “se vira, professor!”. Afinal, se o profissional da educação já é um mágico capaz ensinar a alguém que não conhece o alfabeto no 6º ano, por que não aceitar mais esse desafio?

Não se esqueça do currículo turbinado! Porque ensinar Português, Matemática, Ciências, História e Geografia é pouco… agora tem que dar cambalhota na quadra, ensinar a pintar o sete e ainda pregar a palavra. Planejamento se tornou artigo de luxo. Afinal, professor já planeja como sobreviver ao mês com o salário que mal paga as contas.

No final das contas, quem ainda insiste em ser professor, ou é apaixonado, ou tem nervos de aço. Mas com tanta exigência e tão pouca recompensa, o risco é que um dia não sobre ninguém disposto a entrar nessa aventura. Porque educar virou missão de herói. Só que ser herói também cansa. E sem salário digno, nem superpoder aguenta.

Mas enquanto ainda houver um professor de pé, com um sorriso no rosto e uma pilha de provas para corrigir, ainda há esperança. Só precisamos lembrar que, se hoje existem médicos, engenheiros, advogados e jornalistas, entre outros profissionais, é porque um professor – cansado, mal pago, mas insistente e que não desistiu de sua tarefa de ensinar.

Como se não bastasse, o professor, precisa ainda lidar com a pressão dos resultados do Ideb, porque se o aluno não aprende, a culpa é dele. Se aprende, o mérito é de alguém. Menos do professor. Ninguém vê o esforço de quem passa noites planejando aulas, madrugadas corrigindo redações e fins de semana fazendo cursos online para tentar “dar conta” de tudo que o sistema empurra goela abaixo.

E quando chega o dia da tão sonhada reunião pedagógica, o professor se enche de esperança achando que, finalmente, alguém vai escutá-lo. Puro engano. Vem mais um pacote de exigências, mais metas, mais planilhas, mais projetos. Por tudo isto, a voz do professor, vai sumindo. Não porque ele fala pouco, mas porque já não aguenta mais ouvir o eco de suas queixas nos corredores da escola.

Ainda assim, entre um café e uma chamada, esse profissional resiste. Porque, apesar de tudo, acredita que a educação transforma. Que aquela criança bagunceira pode virar cientista. Que o aluno que chegou sem saber o alfabeto pode escrever um livro. E que, um dia, o Brasil vai acordar e perceber que a base de tudo — absolutamente tudo — começa ali: na sala de aula, com um professor.

Os comentários estão desativados.