E se você tivesse a mesma idade para sempre?
Bruna Torres – Jornalista e Escritora @autorabrunatorres Quando a nossa vida começa? E quando será que ela termina? Não somos senhoras e senhores do tempo, não sabemos quando nosso prazo de validade irá expirar nesta terra, mas se você pudesse escolher, qual idade gostaria de ter para sempre? Mas e caso não tivesse escolha, será […].

Bruna Torres - Jornalista e Escritora @autorabrunatorres
Quando a nossa vida começa? E quando será que ela termina? Não somos senhoras e senhores do tempo, não sabemos quando nosso prazo de validade irá expirar nesta terra, mas se você pudesse escolher, qual idade gostaria de ter para sempre? Mas e caso não tivesse escolha, será que àquela idade, sua vida já teria começado ou ela chegou ao fim, quando a nossa vida começa, afinal?
Uma das melhores fases da minha vida foi a adolescência, que teve seus altos e baixos, mas até hoje, traços de quem eu era aos 16, ainda permeiam os meus 27 anos.
Eram tantos planos, sonhos, uma faculdade de psicologia em mente, incertezas, problemas amorosos e a má sorte neste segmento, que devo confessar, ao menos tenho boas habilidades com amores em livros.
De todo modo, aos 16 anos junto ao meu melhor amigo Léo, eu dava os primeiros passos para o universo literário e na biblioteca da escola localizada na Zona Norte de Natal, nos debruçamos em páginas e mais páginas de universos fantásticos como os de Percy Jackson, personagem literário do autor americano Rick Riordan.
Nosso passatempo preferido eram as fofocas sobre meus casos amorosos tão falhos quanto na fase adulta rsrs, brincadeiras com a nossa professora favorita de Português, Vanessa, e, além disso, brincar com nossos amigos no intervalo.

Sim, a gente brincava no intervalo, quantos adolescentes fazem isso hoje em dia? Jogar bola, queimada, ABC, dentre tantas atividades que envolviam risadas e boladas, numa época remota em que as redes sociais e dancinhas virais não estavam literalmente na palma da mão dos jovens. Não teço críticas aos avanços tecnológicos, de forma alguma, adoro as dancinhas do Tik Tok, apesar de não ter nenhuma habilidade ou coordenação motora para tal façanha, apenas vejo como o mundo na palma da mão, também afasta pessoas que têm histórias incríveis e podem estar do nosso lado.

Enfim, tenho inúmeras contribuições sobre o ensino médio, mas a questão é que nunca sabemos quando o nosso relógio de vida irá parar e foi isso que aconteceu com o meu melhor amigo, Leonardo nos deixou no auge do ensino médio, no retorno às aulas num período pós recesso.
Ele teve complicações em função de um tumor no cérebro e ninguém esperava que o pior fosse acontecer, quem no auge da adolescência, dos hormônios borbulhantes e provas iria imaginar perder um colega de classe? Nossa inexperiência à época não nos fazia pensar nessa possibilidade, ou em partes, jamais poderíamos acreditar no pior. Quantas tardes jogando bola poderíamos ter brincado? Quantas fofocas e biscoitos Passatempo poderíamos ter comido nas horas do recreio?
Eu não sei quantos anos eu gostaria de ter para sempre, se pudesse escolher, mas acho que ninguém deveria partir na adolescência, com tantos sonhos e incertezas numa bagagem que nunca foi aberta, que nunca pôde chegar na fase adulta e pensar de forma saudosa nas amizades que fez, os amores que hoje são apenas lembranças, das fotografias de escola, das gincanas, das brincadeiras, como deixar para trás todo resto?

Quantas bagagens carregamos durante a nossa vida? Quantos segredos deixamos de partilhar, momentos para experimentar? Não sei ao certo, mas se eu pudesse escolher qual idade ter para sempre, eu gostaria de chegar numa idade de ter cabelos branquinhos, um rosto repleto de marcas do tempo, olhar para a minha filha, minha pequena Luna, com um lindo sorriso no rosto, com uma família feliz, não importa de qual tipo seja.

Hoje penso no baita privilégio que é envelhecer ao lado de quem amamos, olhar para as marcas no rosto dessas pessoas e ter a oportunidade de amadurecer ao lado delas. Se eu tivesse a mesma idade para sempre, eu gostaria que o meu relógio de vida parasse quando a minha bagagem já estivesse pesada o bastante para que eu não pudesse mais carregá-la sozinha, bem como, ao meu lado, estivesse repleto de pessoas que fizeram parte da minha trajetória, assim como Léo, que desde os meus 17 anos, 10 anos após o seu falecimento, ainda é uma pessoa que carregarei para sempre no coração, até que meu relógio de vida dê sua última badalada.