E por falar em saudade…

agosto 20, 2023

Edílson Avelino – (didiavelino@globo.

Praça Monsenhor Paiva - Anos 60

Edílson Avelino - (didiavelino@globo.com)

Há poucos meses escrevi aqui n'O ALERTA um artigo com o título "Saudosista sim, e porque não?" E, para minha grata surpresa, recebi várias mensagens de amigos, contemporâneos e saudosos como eu, felizes ao verem naquelas linhas um pouco do que vivemos numa São José do Mipibu sem os problemas de agora. Evidentemente, poderia ocupar páginas e páginas relatando fatos pitorescos, festas, acontecimentos políticos, sociais, esportivos, momentos de extrema euforia, ou de tristeza, afinal a vida tem dessas coisas.

Nos idos anos setenta, São José de Mipibu era um oásis de tranquilidade e pureza. Costumo dizer que, naquela época, o roubo de uma galinha era assunto para um ano inteiro. Outro dia falando isso para um amigo, ele me fez o seguinte lembrete: “E isso quando não era um de nós que escondia a galinha só pra dá motivo ao falatório!...” E é verdade.

"Nos anos 70, São José de Mipibu era um oásis de tranquilidade e pureza" com antigas cigarreiras de madeira em frente ao Mercado Público

Convivíamos com os índices – saúde, educação, criminalidade, como se estes não existissem, tal era a felicidade por aqui. Vivíamos para estudar e nos divertir. Hoje, desconfio que nesse idílio com a cidade, perdemos espaço político, abdicamos de interferir nas decisões de governo, não cobramos providências necessárias ao inexorável crescimento da cidade, enfim, na nossa ingenuidade juvenil acho que imaginávamos uma São José de Mipibu feliz para sempre. Mas, o que é ser jovem se não utópico?   

AEM - Associação Esportiva Mipibuense, demolida. Em seu lugar agora é a Loja Maçônica São José

Contudo, não é momento para autocrítica, mas sim de recordar. E por falar em saudade, das diversas atividades com as quais convivi ou participei quando morava em São José, a AEM - Associação Esportiva Mipibuense terá sempre um destaque especial em minha memória afetiva. AEM de muitas histórias, eventos e situações inesquecíveis. Foi lá, nos anos setenta, que flagelados da seca foram abrigados; foi lá que a senhora Aída Cortez, poderosa primeira dama do Estado, foi recepcionada quando de sua visita a São José de Mipibu; foi lá que desfilou a primeira representante de São José de Mipibu no concurso Miss Rio Grande do Norte, a inesquecível e linda Regina Carvalho, antecedida por belas jovens mipibuenses como Solange Gurgel, Fátima Barbalho, Vilminha, Eclésia e outras mais.

Aída Cortez, poderosa primeira dama do Estado, com o marido, governador Cortez Pereira Foto: BZNotícias

Foram lá os inesquecíveis bailes de carnaval, onde o mestre de cerimônias era o casal “seu” Padre e dona Judite. Era lá que o bloco 'Os Magnatas' fechava as noites de folia trazendo em seu cordão figuras maravilhosas como Bezerrão, George e Marcone Ferreira, Maria do Carmo Maciel, Jaci (em memória), Humberto Maciel(Beto), Toinho, Martinho, Eduardo e Isabel Sales, Evandro, Fernando Ramires, Binha e tantos outros.

Foto Ilustrativa
Bloco As Candinhas
Bloco Skulacho

A bebida preferida na época era cuba-libre(run, Coca-Cola e limão) que, aliás, era servida com a concordância ou não do folião na famosa mamadeira que o Bezerrão trazia ao pescoço. Ao sairmos do clube íamos saciar a fome com cuscus fresquinho de Carminha, até hoje, famosa por aqui. Que saudade daquilo tudo!

E o tempo, surpreendente e implacável, foi passando e transformando tudo. A ponto de, numa das minhas vindas a São José, não encontrar mais a Associação Esportiva Mipibuense em seu lugar, sem que tivessem construído uma alternativa para substituí-la. Fato consumado por alguns de seus próprios usuários e frequentadores.

A destruição das coisas tradicionais de São José é algo compulsivo, quase esquizofrênico. O que é pior, com a concordância e, porque não dizer, conivência daqueles que se espera defenda e preserve o patrimônio da cidade. É lamentável. Governos municipais se sucedem e São José não tem de volta o que lhe foi tomado. Pouco importa que edificação tenha sido construída no lugar da Associação. Justo, correto e legítimo é que devolvam à cidade o que é dela, ou seja, um outro clube.

Antiga Praça Desembargador Celso Sales
Demolida para dar lugar uma nova

Sem trocadilho, quando penso na Associação e nos bons tempos que vivemos, associo imediatamente sobrenomes como Amaral, Honório, Carvalho, Ferreira, Maciel, Sales, Barbalho, Dantas, Barros, Ramires, Monteiro, Ribeiro, Freire, Fagundes, Nóbrega, Palhano, Emerenciano, Cabral, Souza, Silva, Gurgel, Dias, Firmino, Barbosa e tantos outros que conosco viveram eventos memoráveis na Associação Esportiva Mipibuense.

Quem sabe, um dia, não possamos nos encontrar numa festa comemorativa de reencontro, ao som das músicas dos anos sessenta e setenta, regada a cuba-libre e com a presença dos amigos que conosco foram partícipes de nossos anos dourados. Isso é quase um desafio.

Didi Avelino (autor deste texto)

No entanto, para que esse reencontro aconteça em sua plenitude, é imprescindível que tenhamos o nosso clube de volta. Não importa se resolverem mudar o nome, afinal isso sempre acontece. É dado ao autor o direito de assinar sua obra.

Esperemos, portanto, atitude e ação dos responsáveis.

PS. Texto publicado na edição impressa do Jornal O ALERTA Nº 341 - Janeiro de 2006

2 respostas para “E por falar em saudade…”

  1. Angela disse:

    Que ideia boa…baile do reencontro. A associação e seus carnavais, festas de casamento e aniversário… só boas lembranças

  2. Didi Avelino disse:

    Dedé, grato por reproduzir essa crônica de 2006 e que rememora uma década marcante em São José de Mipibu, especialmente nas atividades lúdicas, de entretenimento e convívio social.
    Lamentavelmente, apesar de várias administrações terem se sucedido, constatamos que nada foi feito para que tivéssemos de volta a regularidade de uma vida social como já tivemos nos idos anos setenta do século passado.
    A falta de um clube, de um local específico para festas e comemorações, como outrora já tivemos, enseja apenas a existência de eventos sazonais, em ambiente público, de logística discutível e com as dificuldades inerentes a esse tipo de produção.
    Para quem viveu aqueles Anos Dourados em Mipibu é triste ver que a perda do prédio da Associação simboliza, perfeitamente, o descaso do poder público em restituir à população aquilo que o próprio lhe subtraiu.