DITADURA INFANTIL

agosto 4, 2024

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa As crianças do meu tempo diferentemente das de hoje não tinham poder de decisão.

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa

As crianças do meu tempo diferentemente das de hoje não tinham poder de decisão. De modo que, cabia aos nossos pais escolher nossas roupas, nossa comida, nossos brinquedos e até os programas de TV adequados à nossa idade, que podíamos assistir. E isso quando a família tinha condições para ter uma televisão em casa. Os pais ensinavam às crianças que estas deviam respeitar os mais velhos, mesmo que não fossem da família. Eram ordens que não se questionavam.

Os adultos deviam ser respeitados pelo simples fato de serem mais velhos, ou seja, ter mais idade significava que aquela pessoa merecia ter o mesmo tratamento respeitoso que era dispensado aos nossos pais e ponto final.

Na maioria das famílias bastava um olhar dos pais ou de qualquer adulto, para a criança compreender que estava fazendo algo errado. A elas, não era permitido participar das conversas dos adultos, tampouco ficar trafegando pela sala enquanto conversavam.

A palavra de ordem, naquela época, determinava: “Criança não tem direito de querer”. Logo, não era permitido a qualquer criança escolher a roupa que queria usar ou comer aquilo que mais agradava ao seu paladar, na hora que quisesse. Tudo era feito de acordo com a decisão dos pais. E o horário das refeições era respeitado.

Lembro-me de que eu detestava um certo vestido de 'organdi bordado'. Bastava imaginar que iria vesti-lo para ficar triste, taciturna, chorosa. O vestido espinhava meu corpo e eu ficava me coçando, mas minha mãe jamais levou minhas queixas em consideração. Para ela, minha recusa em não gostar do vestido não passava de birra infantil. Desse modo, fiquei muito feliz quando vestido deixou de me servir, depois que cresci.

As crianças de hoje podem tudo. Assemelham-se a verdadeiros ditadores mirins impondo suas vontades aos pais, que parecem ter medo dos seus rebentos e acabam por fazer-lhe todas as vontades. Algumas crianças chegam a gritar e bater na cara dos pais, sem que eles esbocem qualquer reação mais enérgica. Acham engraçado a falta de educação dos filhos.

São essas crianças quem ditam as regras dentro de casa. Assim, elas próprias determinam a hora em que vão dormir, a hora de acordar, assim como escolhem o que vão comer. Também decidem se vão ou não à escola, enquanto uma boa parte dos pais se limita a dizer “amém”.

A verdade é que uma boa parte dos pais quer a felicidade dos filhos a qualquer custo e este não é o papel que lhes compete. Pais devem ensinar limites aos seus filhos, a fim de formar cidadãos fortes e capazes de enfrentar as dificuldades que a vida apresenta.

Existe um provérbio oriental cujo ensinamento diz: “Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos”. Muitos pais estão criando uma geração de pessoas fracas, acostumadas a obter tudo o que desejam sem esforço. As crianças recebem tudo de “mão beijada”, dificilmente aceitam um “não” como resposta e isto contribui para transformá-las em pessoas sem maturidade emocional.

Eu acredito que é por esta razão que existe tantos jovens perdidos, sem a capacidade de sonhar, lutar para conquistar algo para seu futuro. Muitos não veem sentido na vida, enquanto outros alimentam a Síndrome de Peter Pan – ou seja, recusam-se a crescer e assumir as responsabilidades inerentes aos adultos. Afinal, acostumaram-se a ter os pais para resolver todos os seus problemas.

Portanto, está na hora de verificar se você não está contribuindo para transformar seu filho em um pequeno tirano.

3 respostas para “DITADURA INFANTIL”

  1. Elza Maria Freire disse:

    Excelente crônica! ” Eduque o menino e não será preciso castigar o homem”. Ainda dá tempo …

  2. Tanta verdade, infelizmente se criam monstros. Os pais, não pode se quer dar umas palmadinhas no bumbum do filho.
    O chamam de tirano. A professora se falar mais alto, o filho chega em casa reclamando, que a professora gritou com ele. O infeliz do pai, quando o filho não esbofeteia a professora o pai indignado, agride a professora, que pode até ser punida pela secretaria de educação. Estamos criando realmente isso mesmo.
    Monstros, criminosos, cracudos, ladrões e
    tudo que acontece na nossa sociedade cancerosa. Exemple seu filho, antes que a polícia o faça. Na minha infância, apanhei muito da minha mãe e até da professora, que usava uma palmatória, chamava de argumento. Volta ao passado, que o mundo melhora a criminalidade, chegará ao um patamar aceitável.

  3. Adriane Rocha disse:

    Concordo plenamente esse texto falou tudo o que a sociedade precisa ouvir humamente falando.