Cultura em ato Gentil
Alex Medeiros – Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) Texto publicado na Tribuna do Norte Um resfriado dotado de coriza, de espirros em grupos de dúzia e de uma tosse sem intervalos para respiração me impediu de participar de um evento que contei nos dedos os dias para estar presente.

Alex Medeiros - Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) Texto publicado na Tribuna do Norte
Um resfriado dotado de coriza, de espirros em grupos de dúzia e de uma tosse sem intervalos para respiração me impediu de participar de um evento que contei nos dedos os dias para estar presente. Perdi a inauguração da nova sala de sessão do Conselho Estadual de Cultura e ainda estou sem ver a roupagem arquitetônica e decorativa concebida pela competente Gladys Fernandes.

Não foram poucos os dias em que troquei conversas zapianas com o empresário e conselheiro Antônio Gentil, o cara que possibilitou a reforma da sala e a dotou de utensílios de valor histórico e representativos no contexto cultural do Rio Grande do Norte e, obviamente, daquele conselho que dediquei seis anos da minha atenção, contribuindo um pouco e aprendendo um muito com os membros que desde então se tornaram todos meus amigos.
Soube por diversos testemunhos que foi uma tarde vibrante e aconchegante, a partir do fato de que a sessão costumeira do CEC aconteceu pouco antes da festa preparada para a inauguração, que contou com talentos e juventude.
Digo assim, pois ali se apresentaram jovens músicos que foram formados desde crianças graças à abnegação de Antônio Gentil e sua família em manter, com recursos próprios, um instituto de incentivo cultural em pleno sertão.
É na cidade de Campo Grande, berço materno de Toinho, que é talvez o apodo em diminutivo de um dos caras mais gigantes que eu conheço desde os primeiros dias de atividades publicitária e jornalística. Um baita visionário.

No dia posterior ao evento, Diógenes da Cunha Lima (outro abnegado pela nossa cultura) me deu notícia logo cedo empolgado com a exposição das obras de artistas locais que Gentil mandou colocar nos ambientes do Conselho.
A iniciativa do homem do Boticário (como dizem tantos admiradores dele) fez a Academia de Letras criar a comenda, ou título, Mecenas Potiguar, estreando a concessão com o próprio e estendendo a outras personalidades generosas.
Antônio Gentil já formou com seu instituto milhares de meninos carentes, todos devidamente dominando a arte de algum instrumento. Alguns deles ultrapassaram a fronteira entre o Sertão e a Civilização e ganharam o mundo.
Tudo começou com dezenas de flautinhas, daquelas tipo doce, que Gentil comprava em São Paulo ou por onde passava e levava para Campo Grande, onde crianças sem nada sopravam num ato do sopro divino criando gente.
Não conheço outro homem rico que soube juntar dinheiro no mesmo tempo em que sonhava com o que pra gente é impossível. Ele escapou da seca com sua mãe tirando água de pedra, daí que aprendeu a tirar o néctar da vida com sonhos.

Quando comecei em propaganda e passei a fazer textos para as lojas dele, fui impactado como tantos colegas com uma frase de Toinho, uma vigorosa sentença: “Quando há crise, eu procuro uma agência e não um banco”.
Ele lembra o presidente americano Truman, que substituiu Roosevelt no auge da Segunda Guerra. Não era político, apenas um comerciante do interior, chamado de vendedor de gravata e de sapato, coisa que Gentil também foi.
Por não ser político, achavam que não entenderia a cultura da guerra e comprometeria os EUA e o mundo. Com abnegação e jeito, superou os obstáculos e venceu a guerra. Antônio também venceu a guerra dele, mas por ser Gentil, não derrotou ninguém.

