Como surgiu o Jornal O Alerta, que hoje (20/03), se estivesse circulando, completaria 42 anos
Por José Alves – Jornalista – Editor do jornal e blog O Alerta Nos anos de 1980, a moda era discutir sobre “Abertura Política”.
Por José Alves - Jornalista - Editor do jornal e blog O Alerta
Nos anos de 1980, a moda era discutir sobre “Abertura Política”. Diversos movimentos de estudantes, trabalhadores e camponeses erguerem a sua voz para exigirem direitos individuais. Já que vivíamos a restrição, imposta pelo regime militar. A oposição ao sistema vigente estava articulada: jornalista, movimentos políticos, estudantes, Igreja Católica, intelectuais, Movimento pela Anistia...
A Igreja Católica passava por um processo de grande mudanças (“era a Teologia da Libertação”) e, posteriormente, a vinda do Papa João Paulo II, ao Brasil, ainda em 1980, foi interpretada como uma força para esse tipo de atitude de engajamento social dos católicos. Grandes figuras, como Dom Hélder Câmara, Dom Evaristo Arns e Dom Pedro Casaldáliga, Frei Beto e Frei Leonardo Boff, defendiam os direitos humano, denunciando as injustiças sociais, exigindo que o governo mudasse suas atitudes.
Nesse contexto, nasceu o jornal O Alerta, informativo idealizado por quatro jovens: eu (José Alves), Paulo Palhano, Gilson Matias e Maria Neli, que participavam do movimento de jovens em São José de Mipibu - a Juventude Integrada Mipibuense (JIM), ligada à Pastoral de Juventude, da Arquidiocese de Natal.
Em 20 de março de 1980 o ideal desses jovens começou a se tornar realidade com o lançamento da primeira edição de um jornal, tamanho oficio, mimeografado. O jornal era fruto da inquietação desses quatro jovens que pretendiam dar à cidade uma alternativa de informação, divulgando os acontecimentos da cidade, além de um espaço de reflexão para o momento de abertura política que o país começava a viver.
A tiragem inicial, em março de 1980, foi de apenas 40 exemplares mimeografados. Ao longo desses anos, o jornal passou por transformações gráficas, que deram nova roupagem, proporcionando maior destaque à leitura. Passando a ser impresso com algumas páginas coloridas. Alguns colaboradores participam do periódico, escrevendo e reforçando o caráter informativo proposto por José Alves. As colunas comunicam os principais acontecimentos da cidade, na política, no esporte, na sociedade, contando a história e as transformações que são implementadas no município, além de esclarecer sobre os direitos e deveres do cidadão. São espaços que privilegiam a informação de utilidade pública. A melhoria da qualidade foi acompanhada pelo acréscimo do numero de leitores, fazendo com que chegue mensalmente nas residências dos leitores, ávidos pelas notícias da terrinha.
AS DIVERSAS FASES DO ALERTA
O jornal O ALERTA passou por diversas fases. De início, de circulação quinzenal, impresso em mimeógrafo em duas folhas de papel – tipo ofício, depois, teve o número de páginas ampliado para atender o leitor cada vez mais exigente, que queria mais notícias. Essa fase durou até agosto de 1989. As matérias eram datilografas em máquina Olivetti comum em estêncil, para depois ser “rodado” em mimeógrafo à tinta. Posteriormente, passou a ser impresso em um mimeógrafo mais moderno que imprimia o papel com fotografia. Um avanço para a época.A segunda fase já em tamanho 32 cm x 46 cm, as matérias eram digitadas em um micro computador, conhecido por “composer” que digitava as matérias direcionando para uma impressora, utilizando esferas. O jornal obteve uma boa aceitação e contou com colaboração de anunciantes do comércio que acreditou na linha editorial de se fazer um jornalismo sério e imparcial.
No ano de 2002 o jornal é impresso pela primeira vez em policromia, atraindo a atenção dos leitores para as fotos coloridas. Nesse período além da digitação em computar, já eram utilizadas fotografias virtuais.
Primeira edição colorida (março/2002)
Toda vez que o ALERTA completa mais um ano de existência, é motivo de uma grande alegria, principalmente, quando transformamos em notícias os fatos que fazem o dia a dia de nossa comunidade. Este ano (2018) O Alerta chegou aos 38 anos. Para chegarmos até aqui, é necessário ser um veículo responsável, ético, imparcial e comprometido com a realidade dos fatos e procurar ouvir os dois lados da notícia.
Censura: Quando o Brasil passou a ser governado por um regime ditatorial, depois do golpe militar de 1964, a imprensa foi uma das principais vítimas desse sistema. o Ato Institucional Número 5 (AI-5), a pressão por parte dos militares passou a atingir outras vertentes da sociedade, entre elas a imprensa. O AI-5 foi a peça que faltava para a ditadura se tornar pública e notória. O regime se tornou ainda mais duro com essa promulgação e os militares passaram a abusar totalmente do poder que haviam conquistado. A imprensa começou a ser brutalmente censurada, nenhum conteúdo era publicado sem autorização dos censores, vários veículos de comunicação foram fechados e muitos profissionais desapareceram ou sofreram outras punições enquanto tentavam exercer seu trabalho, como é o conhecido caso de Vladimir Herzog. O Alerta também foi chamado à Polícia Federal para que seus conteúdos fossem analisados, antes de ser distribuído aos leitores.
Matéria inesquecível. No dia 1º de abril de 1981, a cidade de Campo Redondo/RN, vivenciaria uma data história e inesquecível e que marcaria para a história dos moradores daquela cidade. A previsão do tempo não previa uma chuva tão intensa e que culminou na tarde e noite com o arrobamento da parede do açude 'Mãe D'água', de Campo Redondo. As águas saíram arrastando tudo que encontravam pela frente.
O Rio Grande do Norte permaneceu cinco dias sem energia, por conta da queda de postes da Chesf que caíram com a força das águas. No dia seguinte, as água eram esperadas em São José de Mipibu. Uma multidão aguardava a chegada das águas no vale dos rios Trairi e Araraí. As águas inundaram todo o vale dos rios Trairi/Araraí e a previsão dos técnicos do DNER era que a qualquer momento as pontes sobre a rodovia BR 101 seriam levadas pela fúria das águas. Houve o arrombamento uma das cabeceiras das pontes, prejudicando, inclusive, a base de sustentação da ponte sobre o Rio Trairi.
Tudo isso foi presenciado por mim com amplo acervo fotográfico. Acompanhei as reuniões e as providências com a presença de homens do DNER e da Companhia de Engenharia do Batalhão do Exército que, logo em seguida, montaram pontes para as pessoas e pequenos veículos transitarem.
Essa matéria me deu algum trabalho, pois também exercia um cargo de na empresa que trabalhava na restauração da rodovia. Ao final, o jornal saiu e logo se esgotou a edição, pois muitos queriam enviar o jornal para familiares que moravam em outras regiões do país, tudo por conta das ilustrações fotográficas sobre o assunto.
Outras reportagens que também marcaram. As matérias sobre o falecimento do Monsenhor Antonio Barros, que atuou por 53 anos na paróquia de São José de Mipibu e do líder político, Janilson Ferreira, que chegou a ser prefeito de São José de Mipibu, por três vezes. Foram acontecimentos muito triste para toda a região. Para mim foi difícil fazer as matérias, unido com sentimento de amizade que me unia aos personagens.
Mas, em cada edição do Alerta há uma história sobre as matérias que escrevemos.
A matéria que mais teve repercussão foi sobre a duplicação da BR-101, ressaltando a construção de um muro entre as duas pistas da rodovia. Esse muro além de “dividir” a cidade, iria dificultar o deslocamento dos moradores de uma parte da cidade para o centro da cidade. Tão logo o jornal circulou, começou a indignação e reação da população. No mesmo dia reuniões foram agendadas e realizadas com autoridades. Como não se chegou a uma conclusão, segmentos da comunidades conclamaram um ato de protesto contra a construção do muro e a reivindicação de um retorno (não estava previsto no projeto). O bloqueio da BR-101 ocorreu e logo em seguida e representantes do Dnit atenderam os anseios da população, refazendo o traçado do projeto de engenharia.
Muitas emoções: Dia desses uma leitora me chamou na residência dela e me apresentou um uma edição do Alerta com folhas amareladas pelo tempo. É que em 1988 eu havia noticiado o nascimento da filha dela. Até hoje guarda com carinho o jornal. Essas coisas não têm como não conter a emoção.
São José de Mipibu o leitor, Ubirajara Freire, atualmente, residindo na capital, colecionava as edições do Alerta, desde o primeiro número. Como foi residir em Natal, não sei que paradeiro deu a sua coleção.
Recebemos inúmeras homenagens e comendas: da Câmara Municipal (recebi o título de Cidadão Mipibuense), Lions Clube, Maçonaria, e outras entidades.
Sempre tenho dito dito: “Se querem me homenagear, que o façam enquanto estou vivo”. (sorrir)
A mudança na logística do processo de produção de informações jornalísticas abre a possibilidade alterações relevantes na forma como são produzidas as notícias. Agora qualquer pessoa com acesso à internet e com um sítio web pessoal, mesmo sem formação jornalística, pode publicar informações que julga importantes sem passar pela filtragem de jornalistas, procedimento antes sem espaço no modelo convencional de jornalismo centralizado.
O jornalismo impresso está em crise. Está difícil atuar nessa mídia. As midias sociais estão tendo uma atuação que atende o mercado publicitário. Já os jornais impresso estão fechando no Brasil, Aqui no Rio Grande do Norte, nos últimos anos fecharam O Diário de Natal, O Poti, Dois Pontos, Novo Jornal, O Jornal de Hoje, Novo Jornal... (todos em Natal) e ainda, O Mossoroense e a Gazeta do Oeste (em Mossoró).
A situação é que o custo para colocar um jornal nas ruas não acompanha com o faturamento. Esse é o dilema do jornalismo impresso. Mesmo tendo um público cativo que ainda gosta de folhear o jornal, o jornal impresso não conseguirá superar o imediatismo da internet. Essa é a desvantagem que leva o jornal impresso. Mas, vamos levando O Alerta ao público cativo, enquanto eu puder editar.
O jornal Alerta, há dois anos, deixou de circular, por conta da pandemia da Covid-19, já que o jornal é entregue de casa em casa. No entanto, enveredamos pelas mídias virtuais, lançando o blog (blogoalerta.com.br), que já tem uma boa aceitação, principalmente, entre os mipibuenses. Mas, já temos planos para retornar o jornal impresso e ao mesmo tempo, chegando às mãos dos leitores através de celulares e outras plataformas digitais.
Aguardem!
Parabéns ao editor do Alerta por manter o jornal local, trazendo nele informações do cidade, do estado e do mundo.
Obrigado Flávia.
Parabenizo “O Alerta” pelos 43 anos hoje, por esse legado jornalístico de boa qualidade. Agradeço e parabenizo a vc, José Alves, pela seriedade e competência de tantos anos e principalmente por não desistir.
Obrigado pelas suas palavras, que só me estimulam a continuar nessa linha jornalística da imparcialidade, ética e seriedade. Como diz o saudoso Cláudio Abramo: “O jornalismo é o exercício diário da inteligência cotidiana, do caráter, da coragem e da verdade”.
Parabéns Dedé. Sei que não é fácil manter um jornal por tanto tempo. Vc é um gigante!
Tive o privilégio de escrever prá este jornal por algum tempo.
Parabéns ! por essa sua grande jornada!
Parabéns Dedé pelos 40 anos de circulação do seu jornal ” O Alerta ” escrevendo e divulgando a história de São José de Mipibu.
Parabéns, Dedé! Uma bela e nobre história. Ela revela resiliência, compromisso, renúncias e sobretudo muito amor ao que se faz. O jornal O Alerta, caminhando para meio século de existência, é parte do patrimônio de São José de Mipibu. Você fez história por ter prosseguido. Parabéns!
Feliz aniversário a O ALERTA e ao seu editor, José Alves, nosso querido Dedé !
Nesses quarenta e três anos de luta, persistência e compromisso com seus inúmeros leitores, O ALERTA consolida, em três décadas de circulação, uma das mais longevas histórias jornalísticas do nosso estado, priorizando, sobretudo, as causas e interesses da sua “cidade mãe”, S. José de Mipibu.
Parabéns ao seu fundador e editor, José Alves, e mais décadas de existência a O ALERTA !
Parabéns por toda sua história Dedé, o jornal o Alerta foi um marco na história de São José de mipibu, a Cigarreira do Bastinho fez parte desta história como ponto de venda deste jornal.
Acompanho e leio desde o início este marco e símbolo de resistência, já histórico acervo da história de Mipibu. Parabéns para Dedé!