CANOAS DE PAPEL

julho 7, 2024

Gilberto Costa – Poeta e servidor federal aposentado Acordo num outro espaço e em outro tempo histórico.

Gilberto Costa - Poeta e servidor federal aposentado

Acordo num outro espaço e em outro tempo histórico. Encontro-me no Estreito, margem esquerda do Rio Seridó, na divisa onde o curso toma dois rumos: um seguindo em frente e outro circundando a nascente do Serrote da Cruz, desaguando no Poço de Sant’Ana e se abraçando no fim da Ilha, próximo à Ponte Velha. Lá estou desafiando as fortes correntezas, os remansos e suas locas perigosas. Lá estou brincando com minhas Canoas de Papel.

As minhas canoas, confeccionadas com papel de embrulho, aproveitado após cumprir sua serventia protetora das mercadorias adquiridas na Mercearia de Seu Tobias Fernandes (in memoriam), esquina da Rua da Cadeia Velha com a 13 de Maio, eram as mais resistentes.

As brincadeiras com as canoas de papel se constituíam num desafio onde vencia aquela que ficasse mais tempo na correnteza sem afundar. E as de papel de embrulho, por sua camada mais espessa, permaneciam por mais tempo nas turbulências do rio. As de folhas de caderno ou de jornais eram como Rubinho Barrichello, ficavam na largada e era motivo de zoada da molecada.

Diferente de outros brinquedos, as canoas de papel tinham uma duração efêmera. Não havia exceção, elas afundariam ao final da competição. E em todos havia consciência disso, não nos apegávamos a elas.

Retorno ao quarto de acolhida de meu sono. As canoas de papel são como a vida terrena.

Uma resposta para “CANOAS DE PAPEL”

  1. Que coincidência!
    Quando criança, brincava com o tal barquinho ou canoa de papel.
    Numa grande bacia com água nas noites de lua cheia. Em volta da bacia, os nomes das cidades que eu iria migrar.
    Em 2014, no convés de um transatlântico rumo a Buenos Aires, fiz essa poesia. Intitulada (Barquinho da ilusão)

    Lua que brilha no céu,
    Tu lembras minha infância.
    Nas noites quando brincava,
    Com barquinho de papel.
    Nas noites em que eras cheia,
    Passava horas a brincar.
    Numa grande bacia com água,
    Tua luz a espelhar.
    Meu barquinho deslizava,
    Sem rumo e sem direção,
    A tua luz resplandecia e me dava muita inspiração.
    Agora não tenho um barquinho, me resta inspiração, pra descrever o que sentia no meu mundo. ” Mundo da ilusão ”
    A realidade hoje me vem, nesse barco com direção, porém sentindo saudades,do barquinho sem direção.
    Aquela pouca água na bacia, era pra mim, um mar cem fim.
    Nesse lindo barco, no oceano mar cem fim.
    São poucas águas para mim.
    Procuro me inspirar, nas coisas reais.
    Tudo foge debilmente, só a lembrança me transporta.
    Com o pensamento voltado, pra minha infância querida.
    Essa lua não brilha com o mesmo esplendor, só meu coração amargurado de dor.
    Neste lindo transatlântico, sinto saudades do mine barco, o barquinho da ilusão.