As palavras são nossas fiéis escudeiras
Bruna Torres – Jornalista e Escritora (@autorabrunatorres) Recentemente fiquei pensando como as palavras transcrevem os sentimentos e os exibem no carrossel dos textos que transbordam do coração.

Bruna Torres - Jornalista e Escritora (@autorabrunatorres)
Recentemente fiquei pensando como as palavras transcrevem os sentimentos e os exibem no carrossel dos textos que transbordam do coração. Quando não conseguimos demonstrar com gestos o que sentimos, usamos as palavras, uma escudeira fiel daqueles que amam. Confesso que sou uma pessoa menos expressiva, corro para as palavras, peço ajuda delas para tentar, minimamente transcrever o que meu coração e ações não conseguem estampar.
A parte irônica disso tudo é que nunca tive a oportunidade de conhecer alguém que tivesse a minha facilidade em expressar sentimentos próprios através das palavras.
Não creio que isso seja uma espécie de dom ou algo do tipo, eu apenas reconheço que isso também é uma forma de autodefesa. Eu não sou daquelas pessoas que dançam e cantam suas músicas favoritas na frente dos outros. Gosto de cantar sozinha, jurar que estou arrasando na cantoria, sem precisar pensar nos julgamentos.

As palavras sempre foram minhas fiéis escudeiras, desde a adolescência. Sempre gostei de escrever diários, sobre diversos assuntos do meu dia a dia, alguma lembrança que eu achasse que valia a pena relembrar um dia.
Na adolescência eu era muito boa em escrever em diários, mas péssima em escondê-los, assim como sou terrível em guardar meus próprios segredos, até nos dias atuais. Para ser honesta, eu ainda escrevo sobre alguns momentos felizes, acredito que as palavras são sentimentos eternos transcritos no papel. Elas possuem nossos atos de comédias, lágrimas, amores, desventuras, superações, dentre todos os aspectos da vida adulta.

Às vezes imagino a minha velhice, pegando meus cadernos, meus diários, minhas palavras e contando as aventuras para a minha filha, notando como o tempo passou para nós duas, eu cheia de rugas, ela repleta de experiências na bagagem, deixando de ser o bebê que corre na minha direção toda vez que eu chego em casa, exausta após um dia intenso, de tantas intensidades que eu sequer saberia explicar.

Em um conto de fadas que crio na minha cabeça, no auge do romantismo que às vezes me aflige, imagino o meu "alguém" lendo os meus textos, textos que escrevi sobre ele, com um sorriso lindo no rosto, se divertindo com as confusões que eu coloco na vida dos meus personagens, os amores, as doidices... E a melhor parte, é quando esse alguém perceber que dentre tantos personagens criados no ínfimo dos meus pensamentos, ele é um dos meus protagonistas mais brilhantes.

Claro, isso é apenas um recorte de algo que eu nunca vi – tampouco sei se vou viver um dia. Mas as palavras também nos enganam, assim como as atitudes.
Algumas pessoas nos prometem o mundo com palavras, com histórias, com vivências, porém, nos deixam à deriva em seu mar de confusão, se afogando em palavras vazias. É complicado, apenas se trata de sorte, ou talvez destino, encontrar alguém que seja mais do que apenas palavras.
Portanto, eu não julgo nenhuma forma de expressão, sejam atos ou dizeres, um conglomerado de pensamentos ou danças malucas e gargalhadas pela sala. Em tempos de tanta apatia, é preferível dançar na chuva, nem que seja em carreira solo, do que numa dupla que não reconhece suas expressões artísticas amadoras. Sejam arte, em palavras ou ações, alguém saberá interpretá-las um dia.

