Bruna Torres - Jornalista e escritora

Certa vez, estava com uns amigos, amantes do esporte, numa doceria e, durante a prosa, comentou-se algo que me deixou intrigada. Nas corridas de rua e nas academias, os atletas estão fazendo o uso de meias azuis para sinalizar que estão solteiros. A prática tem sido motivo de piadas entre humoristas e alguns artigos que circulam na internet. O que me deixou a refletir, como os seres humanos têm evoluído na área tecnológica e formas de comunicação, mas ,se retraindo nas interações com os outros seres da sua espécie.

Já ouvi de pessoas, um pouco mais velhas que, "hoje não se paquera mais como antes". E isso é verdade. O celular, tão usual e prático, nos tira muita atenção do mundo a nossa volta, até mesmo porque “paquerar” e “flertar”, dentro dos ônibus, nos restaurantes, nos barzinhos... são termos ultrapassados. Às vezes não olhamos mais nos olhos do outro. Não puxamos mais conversas numa fila do banco, num ponto de ônibus, com familiares na mesa, durante às refeições. Na verdade, estamos cada vez mais obsoletos.

Afinal, pra que ir a uma agência de banco, quando pagamos os boletos nos aplicativos do celular, do computador, A comida pode ser consultada a variedade, nos cardápios dos apps, assim como, chamar, por aplicativo um transporte.

Muitos de nós estamos com os seus fones nos ouvidos, sentindo a nostalgia com suas melhores sinfonias, séries para distrair ou até mesmo o feed para atualizar. O mundo que nos conecta também nos afasta. Ou será que estamos cada vez mais temerosos com uma conversa sincera com outra pessoa, ao nosso lado? Puxar assunto? Perguntar sobre o cotidiano? Usar meias para sinalizar que está disponível, será que possibilita que as pessoas não tenham medo de investir?

Certa vez uma pessoa puxou papo comigo sobre o horário dos ônibus. E mais adiante, foi direto, fazendo perguntas mais pessoais: " - Qual é o seu nome? Com o que você trabalha?"

Fiquei surpresa com aquela interação. Já o tinha percebido, em outro momento, no mesmo transporte que pego para ir trabalhar. Não sabia como puxar assunto ou saber mais a respeito dele (esse tema ficará para outro momento).

Vivemos em uma sociedade que se mostra tão midiática e exibicionista com seus gostos, filmes, livros, playlists, locais favoritos e pessoas próximas evidenciadas em storie. "O outro" parece ser um mar que temos medo de mergulhar. Não sou hipócrita, também sou uma dessas pessoas “práticas”, evito filas para fazer pagamentos e às vezes, evito contatar com outras pessoas, que não conheço.

Mas, voltando as meias azuis, elas, de fato, funcionam ou não? Precisarei ouvir opiniões de pessoas que fazem uso dessa prática. Será que minhas meias do tipo Lula Molusco e da Úrsula servem de alguma coisa?

De forma alguma isso é uma crítica, eu apenas fiquei pensando no modo em que nós, tão comunicativos e sociais, estamos perdendo essa habilidade para uma vida que se constrói a um clic de distância.

Para além de usar as meias azuis, também tem aqueles/aquelas que curtem as redes sociais e depois comentam nas rodas de amigos:"- Ele olha tudo que eu posto" ou, "Ela dá like nas minhas fotos".

No contexto geral dos relacionamentos, nós deveríamos ter mais possibilidades de interações em momentos oportunos com pessoas que realmente estão dispostas a um relacionamento.

Eu espero que a galera do “Vamo?” “Bora!”, um dia, possam se encontrar para viver o que elas almejam, deixando para trás as cores da insegurança e baixa habilidade social.