As festas juninas de antigamente em Mipibu
Cristóvão Ferreira Cavalcante- Mipibuense radicado no Rio de Janeiro/RJ Junho é considerado o mês dos santos, isso porque a Igreja Católica comemora o dia dos três santos, que são: Santo Antônio, São João e São Pedro.

Cristóvão Ferreira Cavalcante- Mipibuense radicado no Rio de Janeiro/RJ
Junho é considerado o mês dos santos, isso porque a Igreja Católica comemora o dia dos três santos, que são: Santo Antônio, São João e São Pedro. Eles fazem parte das tradicionais festas juninas, tipicamente comemoradas no Nordeste. Essas festas atraem milhares de pessoas para vivenciar os costumes, saberes e viveres de uma cultura, bem como a sua gastronomia.
Quando morei em São José de Mipibu, nos anos 50/60, os três santos eram muito comemorados. Santo Antônio, é o protetor dos namorados. Não era muito festejado, mas na Igreja Matriz ,havia distribuição de pães, na missa matinal e os fiéis levavam para casa e colocava o pão em uma vasilha, que guardava farinha, para que não faltasse farinha, naquela residência.

Também, haviam pedidos ao "Santo Casamenteiro". A imagem de Santo Antonio sofria nas mãos das moças ameaçadas de ficar no 'caritó' (solteirona). O desespero, era tão grande, que elas faziam diversas promessas ao santo, ao ponto de colocar a imagem, amarrada de cabeça pra baixo numa jarra com água. "- Só vai sair desta jarra, quando meu pedido for realizado", falava enquanto fazia o ato.

Algumas moças enfiavam uma faca virgem (que nunca foi usada), no troco da bananeira. Iam dormir e, no dia seguinte, saia, para o quintal observar o 'sinal', se elas sairiam do 'caritó'.
Uma vizinha, já 'coroa', como se diz atualmente, ficou maluca, depois de ter visto um um 'sinal' de algo que não lhe agradou, após sacrificar radicalmente a imagem de Santo Antônio, colocando-o, em um pinico cheio de urina. Além desse exagero, enfiou uma faça na bananeira. Naquela noite, viu em sonho, um enorme pé humano. Feliz ficou. Significando que iria casar com um homem do pé grande e, por tabela (impublicável)..., quando, no sonho soou uma voz grave:
"- Como não existe sapato para esse pé, não existirá homem para essa mulher".
A moça acordou ensandecida com o sonho. A decepção da coitada foi tamanha que, dias depois ficou 'abilolada' (enlouqueceu). Certo dia, quando vinha da escola, lá pelos anos de 1953, avistei-a pulando e cantando, muito louca.
"- Matrimônio é casamento. Mariinha quer casar. Um pão com três xícaras de leite, eu vou ao céu devagarinho".
Os festejos do São João, iniciava o com a colheita do milho verde. O milho de época, é plantado no dia de São José (19 de março) e colhido, na véspera de São João( 23 de junho). Esse milho é mais gostoso e propício para se fazer todas as guloseimas dos festejos juninos. Canjica, pamonha, bolo de milho, milho assado, milho cozido na palha, entre outros.

O São João da minha terra São José de Mipibu era muito diferente dos tempos atuais.
Na quadrilha, os participantes da dança, usavam roupas caipiras originais. Chapéu de palha para os cavalheiros, calças remendadas e alpargatas de rabicho, além de trazer um lenço na mão.
As damas com vestidos coloridos, de chita e turbante na cabeça. Tipo sertaneja. Havia quem fizesse o papel de padre para fazer o casamento matuto. O noivo, vestia um paletó de linho branco, calça 'pega bode', com remendo nos joelhos e botina surrada. Trazia um cachimbo na boca.
Por sua vez, a noiva vestida de branco de véo e grinalda, confeccionada com rosas de Manacá, sandália de couro com os dedos expostos e meias até ao meio das canelas e de cor diferente do vestido.
O pai da noiva, ficava ao lado da filha, armado de facão e espingarda de soca, com enorme charuto na boca.
O 'casamento' era animado por um sanfoneiro, um tocador de triângulo e um com um zabumba. Tocavam baião, xaxado, característico do forró nordestino.

O puxador da quadrilha, animava, cantando e gritando para que não errassem:
- Ana van! Anarier, balacê, trevessê com balancê. O túnel…Olha a chuva, galope, damas ao centro, inverter cavaleiro ao centro...
O arraiá era um cercado feito de varas, pés de milhos, bandeirinhas, lanternas feitas de taliscas de madeiras, revestidas de papel crepom e uma vela dentro para clarear.
A casa dos noivos, dentro do arraiá, era construída com palhas de coqueiro, ornamentada de bandeirinhas coloridas, flores de malvão, rosas brancas e roxas e outras cores. Ornamentando a casa, havia uma cama feita de vara, um banco de madeira, tamboretes e uma mesa. Em cima, três trempes (chapa de ferro vazada que, num fogão a lenha, serve de suporte para as panelas, permitindo que a chama passe por entre seus orifícios), uma panela de barro).
Atualmente, as quadrilhas são parecidas com escolas de samba - um luxo e riqueza-, as fantasias e as danças, que acho baseadas em ciganos e não, no sertanejo, como nossas quadrilhas originais.
Durante o dia íamos procurar lenha nas matas próximas a lagoa do Bonfim, na Bica ou no sítio de minha avó. A lenha teria que queimar a noite toda. As fogueiras, rodeadas de enfeites, com bandeirinhas.
Era uma festa matuta. As pessoas sentavam nas calçadas ou no terreiro, colocando milho na brasa da fogueira. Muitos faziam o 'batismo na fogueira' com os padrinhos de fogueira. Eu, tive, padrinho e madrinha de fogueira O batismo era realizado assim: o afilhado de um lado da fogueira e a madrinha ou padrinho do outro e diziam:
- São João disse, São Pedro confirmou, eu fosse seu afilhado (nome dos padrinhos), que Jesus mandou.
As fogueiras em brasa viva, fazia com que certas pessoas, com muita fé, passassem descalços, pisando nas brasas. Só fazia essas coisa, que tinha muita fé em São João. O problema de queimar os pés era se ficasse cinzas sobre as brasas.
Ao lado da Igreja Matriz de São José de Mipibu, após a missa, soltavam foguetões, fabricados pelo fogueteiro Lulú Davino que, também, fabricava os balões, que se elevavam para o alto.
Os fogos para as crianças e jovens, eram vendidos em bancas ornamentadas, instaladas, nesse período junino, próximo ao mercado público. Eram traques, bombas, bombinhas, bomba de parede, bomba pirulito, busca-pé, mijões, traque de chumbo, rodinhas e velinhas.
Eu, tinha ganhado de presente um miaeiro (cofrinho artesanal, usado para guardar e juntar moedas), onde juntava moedas para, nessa época do ano, comprar foguinhos e guloseimas na noite de São João.

Todas as ruas havia fogueiras em frente as casas. As ruas eram enfeitadas com bandeirinhas, palha de coqueiro, palha de bananeiras, de cana-de-acúcar... Nas paredes das casas, colocava lanternas feitas em forma de estrelas ou outras formas, com velas dentro pra clarear.
Havia uma disputa para saber qual a rua mais enfeitada da cidade.
No início dos anos 60, em São José de Mipibu havia rivalidade de duas quadrilhas juninas: uma, formada por pessoas da sociedade (elite) e a outra, dos mais carentes, da qual eu fazia parte. A disputa era acirrada. Pobreza x Elite.

A festa de São Pedro era o segundo mais comemorado, com fogueiras, na véspera e no dia 29 de Junho, com fogos e fogueiras, muito menos do que o dia São João.
Tudo mudou, para melhor? Cada leitor tem sua opinião que eu respeito. No entanto, sou saudosista.
Obrigado, pela exelente reeditagem e as ilustrações perfeitas.
Era muito bom mesmo. Lindo de se ver. As quadrilhas improvisadas eram muito engraçadas. Eu nunca dancei porque não gostava de trocar de par. Imagina! Se a graça era essa. Kkkkkkk
Tudo muito bonito. Uma simplicidade…O simples tem a sua essência. Eu amava. Mas… Morria de medo dos traques, bombas, foguetões, etc. Hoje só resta muita saudade daquele tempo que não volta mais.
Essa é a melhor época das guloseimas maravilhosas. Embora não tenha vivido essa época descrita acima das festas rusticas/simples, hoje é tudo muito glamuroso. Mas tá valendo.