
Pe. Matias Soares - Pároco da paróquia de Santo Afonso M. de Ligório Natal-RN
Estamos vivendo um presente e, ainda mais, um futuro de incertezas. É momento de oração e reflexão, pois o cristão que reza bem, pensa bem. Com essas práticas fundamentalmente antropológicas, o mesmo confronta-se e interroga-se acerca do Mistério. A ação missionária e pastoral pós-pandêmica será profundamente exigente.
Seremos tentados a viver as antigas e obsoletas ações que não consideram o sujeito e sua liberdade. Muito densamente já profetizara o insigne teólogo Karl Rahner, numa de suas conferências coletadas num pequeno livro (Cf. O cristão do futuro, pág. 34-35), conjecturando que provavelmente “o ensino da Igreja em muitas questões morais que dizem respeito a aplicações concretas do primeiro princípio, deixará o cristão de hoje e de amanhã mais por si mesmo, do que foi outrora, e deve deixa-lo a sua consciência, seu próprio poder de discernimento”, conclui o teólogo. A questão que deve ser confrontada é: A quem nós queremos evangelizar e como?
Quando paramos só para pensar, sem rezar, o Mundo parece um caos, com suas provocações e demandas ecológicas, sociais e pessoais. A pandemia nos trouxe a possibilidade de confrontarmo-nos com fragilidades e necessidades ainda não postas. Constatamos que a ciência e a fé podem e precisam caminhar juntas. Quantas respostas nos foram dadas diante de situações que para muitos eram insustentáveis?
Foram muitas as situações de superação, mas também de derrotas. A ciência que considerou que não tem todas as respostas, mas também tem suas respostas. A fé que se humaniza quando reconhece a possibilidade das manifestações das maravilhas de Deus na sabedoria humana, quando esta faz acontecer uma “vacina”.
E aqui estamos nós, cristãos, católicos ou não; inseridos no tempo e no espaço. Sendo urgentemente asfixiados pelos novos ares que exigem de todos um novo aggiornamento, ou seja, mais uma atualização das nossas metodologias missionárias e pastorais. Aqui entra em cena o necessário uso qualificado das novas ferramentas da comunicação social.
Estas não podem abandonar o toque humanístico e humanizante da vida eclesial. A presença que sente no nome e no rosto do Outro a sua complementariedade (E. Lévinas), nunca pode ser relativizada e colocada em segundo plano.
A ação missionária e pastoral tem que ser mais ousada. O Papa Francisco nos lembra que a reforma das estruturas da Igreja passa pela sua conversão missionária (Cf. EG, Cap. I). Mesmo tendo acolhido a V Conferência Latino Americana de Aparecida, nós ainda não recepcionamos a sua mensagem teológica, metodológica e pastoral. Assim como as águas dos rios que vivem em movimento, também assim precisa ser o nosso modo de “Ser Igreja”, no pós-pandemia e neste terceiro milênio. É de senso comum que também os fiéis leigos, juntamente com os ministros ordenados, parecem cansados de ir contra nas intempéries destes novos tempos.
Como Instituição Católica, ainda temos um potencial tremendo. Quantos profissionais liberais, comerciantes, profissionais da saúde e operadores do direito, professores e tantas outras lideranças não estão dentro das nossas comunidades? Quem os articula? Quem os promove, para que sejam sal da terra e luz do Mundo?
A nossa pastoral é de sacristia; ou porque temos medo, ou porque somos despreparados para enfrentar as novas coisas. Ainda queremos colocar remendo velho, no que é novo. Não aprendemos ainda da escola de Jesus Cristo. Ele era livre para pensar e para orar o que era do Pai, por isso avançava para o que lhe era próprio e da sua hora.
Seria importante debatermos sobre estas questões da vida da Igreja e do Mundo. Temos potencial. Podemos e somos vocacionados ontologicamente a ser e fazer mais. Mas para isso, precisamos ser sequela de Cristo. Não podemos ser dominados pelas consequências do vírus da morbidez e da indiferença, mantendo o “status quo” porque alguém fez no passado.
Essa não é a lógica da Tradição Viva da Igreja, como dizem os Teólogos. É hora de pararmos e nos organizarmos, tendo em vista a nossa sinodalidade. Para isso, o caminho da oração e do estudo sempre foram e serão as armas dos grandes homens e mulheres da História da Igreja. Para isso, é premente a articulação das nossas realidades eclesiais.
Por fim, que essa busca constante pela inserção na realidade seja o objeto das nossas meditações e projetos, tendo em vista o que é próprio do Reino de Deus. Essa mensagem é sempre atual e pode penetrar todos os corações e mentes que desejam a Resposta Última e Necessária da existência. Lutemos por isso e façamos com que nossa ação missionária e pastoral vá além das nossas sacristias e práticas sacramentalistas, que não evangelizam mais. Assim o seja!