ALLAN KARDEC, UM HOMEM ESPECIAL

julho 9, 2023

NILO Emerenciano – Arquiteto e escritor Os espíritas são avessos aos elogios feitos aos seus grandes próceres.

NILO Emerenciano - Arquiteto e escritor

Os espíritas são avessos aos elogios feitos aos seus grandes próceres. Há um motivo compreensível para isso, que é evitar o culto a personalidades, a “santificação” de algumas figuras de moral elevada, tipo Chico Xavier ou o dr. Bezerra de Menezes. Na base desse raciocínio está o pensamento de que o brilho deve estar com a Doutrina, com a Obra, e não com seus obreiros.

Inegavelmente o corpo doutrinário contido nas obras da codificação - O Livro dos Espíritos (1857), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Livro dos Médiuns (1861), A Gênese (1868) e O Céu e o Inferno (1865) - é sólido, claro, esclarecedor e resiste ao tempo como só as grandes verdades o fazem. Mas não podemos esquecer que, mesmo considerando o fato da origem das revelações - segundo o próprio Allan Kardec – advirem dos espíritos, há um homem corajoso, abnegado, altruísta, imbuído de uma tarefa grandiosa, à frente de tudo isso.

Kardec, pseudônimo do professor Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), foi tudo isso e muito mais. Corajoso porque enfrentou a sociedade do seu tempo. A zombaria, a incredulidade e o desprezo, além dos representantes da Igreja Católica que chegaram a queimar seus livros em praça pública, no chamado ato de fé, de Barcelona. Abnegado, sim, ou não é abnegação dedicar a maior parte do seu tempo à construção da Obra, comprometendo finanças e a própria saúde? E tendo sido avisado de tudo isso, quando lhe foi dito pelos espíritos que iria inclusive abreviar a duração da própria vida, além de enfrentar calúnias e perseguições.

Resquícios da Idade Média: Auto de Fé das obras espíritas em Barcelona

Acrescentemos a incrível capacidade de trabalho desse homem especial.  Em pouco mais de doze anos redigiu, além dos livros acima, as obras O Que é o Espiritismo?, O Espiritismo em sua Expressão Mais Simples, Viagem Espírita em 1862, Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas e Caráter da Revelação Espírita. Mais ainda, publicou ao longo de onze anos, com recursos próprios, La Revue Spirite (A Revista Espírita), em cujas páginas, além de relatar fatos e divulgar eventos, também respondia aos ataques feitos à doutrina recém-criada.

Kardec ainda encontrou tempo e saúde para enfrentar as ferrovias da época e percorrer cidades da França e Bélgica, entre elas Lyon, Bordeaux, Antuérpia e Bruxelas em seu trabalho de divulgação e visitas aos diversos grupos espíritas que já se haviam organizado.

Tudo isso começou quando ele foi atraído a assistir uma sessão do que então era febre na Europa, as mesas dançantes que respondiam de forma inteligente, através de um código de pancadas, perguntas que lhes eram feitas. O professor percebeu algo mais por trás da frivolidade das reuniões e iniciou seu trabalho de pesquisa que resultou na elaboração dos livros da Codificação Espírita.

Qual o resultado do trabalho infatigável deste homem?

Em primeiro lugar afastou o caráter de sobrenatural que pairava sobre todos os fenômenos até então inexplicáveis ou categorizados no campo da superstição. Kardec comprovou que ao invés de demônios ou coisas do tipo, os fatos “paranormais” eram provocados por espíritos dos homens desencarnados, nem mais, nem menos.

Em segundo, de todas aquelas comunicações obtidas ele extraiu um código de conduta moral que coloca o amor e a caridade como móvel do nosso crescimento emocional e intelectual. E mais, colocou todo mérito e também as responsabilidades da nossa vida em nossas mãos, o que nos faz artífices de nós mesmos.

Esclareceu a não existência de Inferno ou Céu como os concebíamos, e sim a nossa consciência a nos acusar dos nossos erros, criando assim um “inferno” interior. Nos falou a respeito da multiplicidade das vidas, mostrando que somos imortais e que isso só aumenta nossas responsabilidades. E que não há outro caminho para a paz e harmonia a não ser o amor, como já havia nos falado Jesus de Nazaré, apontado pelos espíritos como nosso modelo e guia. Enfim, que a Lei estabelece que colhemos o que plantamos, sendo a semeadura opcional, mas a colheita obrigatória.

Kardec abre O Livro dos Espíritos com uma pergunta fundamental, sem a qual não teria sentido a continuidade da tarefa: - O que é Deus? Não quem ou onde habita, ou ainda qual o seu aspecto, mas “o que é”? E a resposta é basilar: - Deus é inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.

Em Natal há uma rua com o nome Allan Kardec, ali, na lateral do Mercado de Petrópolis, que abre em um largo. Tímida e desconhecida. Mas que seja, o Codificador do Espiritismo afinal nunca quis brilho para si próprio, mas para a Doutrina que, ele fazia questão de acentuar, fora trazida pelos espíritos.

Seus restos materiais estão no Cemitério de Père-Lachaise, em Paris, em um túmulo que sempre recebe bastante visitantes. Nele está inscrito: "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei". A frase resumo o trabalho de sua vida.

Túmulo de Allan Kardec - fundador da doutrina e filosofia espirita no cemitério de Père Lachaise Local: Paris 18 Buttes-Montmartre França Data: 11/2019 Codigo: 03JLB607 Autor: J L Bulcão

3 respostas para “ALLAN KARDEC, UM HOMEM ESPECIAL”

  1. Renner Jales de Medeiros disse:

    Maravilha, é uma doutrina que adimiro e tem respostas para questionamentos da vida e do pós morte. Parabens.

  2. Maria Assunção disse:

    Síntese muito bem elaborada. Parabéns!

  3. vanda disse:

    Brilhante a síntese da filosofia kardecista. Despertou curiosidade para lê-lo. Obrigada.