Alerta de bombardeio alemão em Natal
Ney Lopes – Advogado [ nl@neylopes.

Ney Lopes - Advogado [ nl@neylopes.com.br ] Texto publicado na Tribuna do Norte
A professora Vera Garcia relatou em entrevista a ameaça concreta que teve Natal de bombardeio alemão na II Guerra Mundial. Disse ela, que o avô Odilon de Amorim Garcia Filho e avó Maria Leticia Valente Ramos (cearense) moravam em casa próxima ao Grande Hotel (onde se hospedavam os militares), bairro da Ribeira, em Natal. Como a comida do Hotel não era boa, as esposas e os maridos (quando podiam ausentar-se dos quartéis) vinham todos almoçar na casa Grande do avô Odilon Garcia Lá confabulavam sobre tudo, até noticiais confidenciais.
O tema principal era o grande perigo que Natal corria. As noites em total escuridão. Poucas velas acessas A recomendação era a cautela para que, se passassem aviões inimigos, não percebessem que havia uma cidade. Naquela época não existiam os equipamentos sofisticados dos aviões atuais. Vera Garcia afirmou, que a sua avó tinha sempre preparadas duas sacolas. Uma com primeiros socorros e outra com comidas não perecíveis. Havia uma senha (confessa que a avó nunca lhe disse), que o Comando aliado usaria para avisar a saída de aviões alemães de Dakar para bombardear Natal. “Uma única vez isso aconteceu. Os aviões estavam vindo. Mas, graças a Deus não jogaram bombas por aqui” declarou Vera.
Durante a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, Natal tornou-se um centro do serviço intercontinental de entrega de suprimentos, desde motores de aeronaves até bombas, os quais eram guardados nos grandes armazéns existentes em Parnamirim. Entre 1942 e 1945, Natal funcionou como principal quartel general dos países aliados no Hemisfério Sul.
Em notável livro“ Natal do século XX“ os historiadores Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro registram fatos curiosos. Um deles: os americanos formalizaram ao governo brasileiro que não mandariam soldados negros. Nas fotos daquela época não são vistos negros. Não era uma imposição do governo brasileiro, mas o reflexo da forte descriminação racial que existia nos EUA.
Natal tornou-se a cidade mais “badalada” do Nordeste. Os cinemas militares recebiam frequentes convidados para elevar o moral das tropas. Assim estiveram na cidade, artistas como Bette Davis, Tyrone Power, orquestra de Glleen Miller, que tocou na inauguração do cinema Rex. Registra o livro “ Natal do século XX” que aqui esteve a primeira dama americana Eleonor Roosevelt para pedir votos aos soldados para a reeleição do marido. O jovem jornalista Aluízio Alves entrevistou-a e “ficou impressionado com a feiura dela”. O general Dwight “Ike” Eisenhower, comandante supremo das forças aliadas, esteve em Natal. Depois ele foi presidente do Estados Unidos.
A BBC transmitia diariamente em português e chegava aos ouvintes em Natal pelos 22 alto-falantes de Luiz Romão, espalhados pela cidade. Esse era o meio de transmitir notícias a quem não tinha rádio em casa.
Com grande riqueza histórica, as cidades de Natal e Paramirim ainda não usaram esse acervo, sobretudo para incrementar o turismo interno e externo. É uma omissão, que não se justifica.