A Torre de Babel das redes sociais e grupos de zap

abril 6, 2025

Já me perguntaram porque escrevo tanto sobre redes sociais e ferramentas como o WhatsApp.

Já me perguntaram porque escrevo tanto sobre redes sociais e ferramentas como o WhatsApp. A resposta é simples: porque atualmente dedicamos imensa parte de nosso tempo a redes sociais e usando grupos de zap´, talvez mais tempo do que deveríamos. De maneira que tanto redes como o zap afetam diretamente nossas vidas, seja no que fazemos, sentimos, percebemos do mundo e impactam o que gostamos e nossa relação com o outro.

Neste último item está minha maior preocupação, o que considero ser o calcanhar de Aquiles das novidades internéticas: o outro, esse próximo que é tão desconhecido. É certo que nós, seres humanos, historicamente não somos fáceis e que equívocos na comunicação são assunto desde sempre, vide as confusões do “Decamerão”, de Boccaccio e “Romeu e Julieta”, de Shakespeare (ambos do século 16!), seguidos de romancistas como Balzac, Henry James e Machado de Assis e diretores como Bergman e Antonioni, todos investigadores da dificuldade das pessoas se comunicarem.

Mas o que esses gênios não conheceram e não contavam era com algo chamado internet e por conseguinte duas mazelas chamadas redes sociais e grupos de zap. Posso dizer, parafraseando a máxima, que conheço o mundo virtual desde que era só mato. A premissa era excelente: possibilidade de conectar pessoas de maneira ampla e rápida.

Com o advento do Orkut ficou fácil encontrarmos gente que vida afastou e com o msn e gtalk conhecíamos pessoas diariamente sem sair de casa ou do trabalho. Parecia um mundo novo se abrindo em termos de comunicação.

Porém, o universo da conexão fácil se desdobrou em outros universos. Como a da comunicação atravessada ou de baixa qualidade. De maneira geral, trocamos mensagens minimamente elaboradas por frases curtas repletas de abreviações (vc, sdds, fds, blz,vlw) e emojis (uso muito esses expedientes, mais do que deveria, e faço aqui meu mea culpa).

Há comunicações muito piores, contudo. Como contatos desconectados com a premissa inicial ou, ainda pior, os contatos agressivos. No primeiro item nós temos como casos clássicos os internautas que comentam algo alheio e aleatório ao que foi postado. Às vezes escrevemos que abacate é verde e a pessoa responde afirmando que abacaxi tem coroa. O poeta publica uns versos e lá vem alguém nos comentários falar da série da Netflix ou do preço do café. A moça posta uma roupa nova num barzinho e o cidadão vem fazer um tratado sobre comportamento feminino ou dissertar sobre como a noite da cidade está perigosa. No zap é normal que grupos temáticos com o aviso que o assunto é tal ou qual sejam invadidos por orações, piadas, militância política, e quem cobra que se mantenha no tema é visto como ditador e autoritário.

Vemos também a comunicação agressiva, essa cada vez mais comum e mais problemática nas redes e zap. Pessoas que, seja em postagens de conhecidos, de pessoas públicas ou gente aleatória, tem de usar palavras ásperas e tom de agressividade. Em posts políticos isso é quase uma regra, pela polarização social registrada nos últimos anos, mas mesmo em publicações sobre a família na piscina ou um sanduíche vai aparecer “haters” para detonar. Para comentar que a família gasta muita água e não se preocupa com o meio ambiente ou para reclamar que aquele sanduíche é caro e o lugar é ruim.

Para mim, há tempos as redes sociais e o zap (que são coisas distintas, diga-se) viraram uma imensa Torre de Babel virtual, onde ninguém fala a mesma língua e a tendência é fazer com que tudo se desmantele. Lembrando que a Torre de Babel é um mito bíblico (citado em Gênesis, capítulos 11:1-9._ que conta a história da construção de uma torre que deveria alcançar os céus, mas Deus, temperamental como sempre no Antigo Testamento, interveio, dizendo que falassem línguas diferentes para impedir a construção da torre.

Como uma Babel moderna, a internet faz com que nos comuniquemos em diversas linguagens (com base na formação, bagagem cultural, vida social, profissão e caráter) em um cenário que, na minha visão meio realista, meio pessimista, vai piorar ainda. Afinal, como insiste o jornalista Leonardo Sakamoto, falta amor no mundo, mas também falta interpretação de texto.

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