A Ribeira: O Coração Comercial de Natal
Aladim Potiguar, colaborador do Blog do Cobra.

Aladim Potiguar, colaborador do Blog do Cobra.
Todos para lá se dirigiam, a fim de realizarem as suas compras, pois as melhores casas comerciais da Cidade e os grandes armazéns ali disputavam os clientes da Capital e do Interior do Estado.
A estação de trens vez por outra lotava de carregadores, agenciadores e passageiros que aguardavam a chegada do trem que vinha de Recife. Dia sim, dia não!
Os vendedores ambulantes e os transeuntes enchiam o largo Dom Bosco e cercanias.
No jardim da Praça Augusto Severo, os pássaros, pouco antes do anoitecer, iam chegando, a fim de prepararem-se para a dormida no topo das árvores que ladeavam a praça e que já não existem mais.
A tardinha, havia o passeio das moças que se dirigiam às compras, nas lojas da Dr. Barata e Travessa Aureliano, e que liam o Horto, de Auta de Souza, prefaciado por Olavo Bilac. O Cinema Polytheama, dos senhores Américo Gentile e Alberto Leal, com os seus cartazes, convidava para mais uma sessão, abrindo as suas portas. Tom Mix e Buck Jones, ao lado de Chaplin, eram os maiores astros daquela época.

Os rapazes iam encostando, para ver as moças bonitas que desfilavam na passarela da moda potiguar.
Na Rua Chile, o comércio de algodão imperava entre as firmas exportadoras de produtos do Seridó.
Uma das principais casas de moda ficava situada na esquina da Dr. Barata com a Travessa Aureliano: “Paris em Natal”.
Recordar é algo triste e alegre ao mesmo tempo, porque traz com muita saudade, as lembranças do que ficou para trás, na distância dos anos.
Naquela época, um esporte de salão muito em moda em Natal era o pingue-pongue, não se sabe precisar exatamente por quem foi trazido.
Natal recolhia-se cedo para o sono provincial, típico das cidades pequenas, às vezes, interrompido pelo som das serestas.
O nosso Presidente era o Dr. Getúlio Vargas, desde 3 de novembro desse ano, quando os getulistas cantavam, em sua homenagem: “Getúlio Vargas, Getúlio Vargas grande filho do Brasil!…”.
Alguns poucos Ford 29 saíam às ruas, para o passeio dominical, ou para os seus proprietários irem à missa, na Igreja do Bom Jesus, na Ribeira.
O bonde cortava o bairro, indo pela Avenida Junqueira Aires até a Cidade Alta.
Os animais ainda vagavam soltos nas ruas, dando trabalho aos fiscais da Prefeitura. A presença dos tropeiros do interior era uma constante em Natal.
As obras da Avenida Duque de Caxias encontravam-se em andamento. Foram tão importantes, àquela época, como as que estão atualmente em andamento, no bairro.
Falava-se dos hidroaviões, que vinham de muito longe, de uma cidade a outra, de um continente a outro. O Natal Club, fundado em 1907, funcionava na Cidade Alta, com um grande número de sócios da elite local.
O Porto de Natal recebia frequentemente navios americanos, ingleses e alemães, e os navios da Cia. de Navegação Costeira, os “Ita”.
A revolução pegava fogo, e o nome de Getúlio Vargas, Góes Monteiro e Flores da Cunha eram constantemente citados, provocando, às vezes, acaloradas discussões.
Natal já tinha até um motorista de carro de aluguel, o “Catana”. Alguns ricaços da época comentavam o seriado francês Belphegor e tomavam o champanhe Veuve Clicquot, importada da França. Outros, contentavam-se com um rosé qualquer, numa garrafinha art nouveau, com o nome do vinho em letras douradas e pendões góticos.
Da Ribeira de 1930 ficaram apenas os vestígios do seu esplendor.
Com informações Antiqualha – Elísio Augusto de Medeiros e Silva.
