A mulata que parou o Brasil

abril 27, 2025

Alex Medeiros – Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) – Texto publicado na Tribuna do Norte Na segunda-feira, dia 14 de abril, fez exatamente 50 anos que a novela Gabriela estreava na TV Globo no horário das 22h.

Alex Medeiros - Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) - Texto publicado na Tribuna do Norte

Na segunda-feira, dia 14 de abril, fez exatamente 50 anos que a novela Gabriela estreava na TV Globo no horário das 22h. Durante 132 capítulos, a personagem do romance de Jorge Amado, escrito em 1958, multiplicou numa escala de milhão o limitado alcance literário da trama. Foi uma das novelas que eu mais lembro pelo fato do último capítulo ter sido no dia em que fiz 16 anos.

A atriz Sônia Braga, na dimensão anatômica de uma bronzeada garota de 25 anos, assanhou machos adultos e adolescentes numa interpretação onde sobrou sensualidade, quebrando muros e correntes dos pudores da época. Ela já havia conquistado fãs em papeis anteriores tanto na TV quanto no cinema, como a professora Ana Maria em Vila Sésamo e Lídia em Irmãos Coragem.

Quando foi anunciada no papel da protagonista do romance, sofreu críticas por não representar etnicamente uma mulata. Reagiu mostrando como já havia superado isso em dois filmes baseados em outros clássicos literários nacionais.

Sônia Braga interpretou A Moreninha, dirigida pelo diretor Glauco Mirko em 1970, e Mestiça: a Escrava Indomável, da cineasta Lenita Perroy, em 1974. “Agora sou a mulata mais charmosa do mundo”, disse na revista Manchete.

Nas palavras do próprio Jorge Amado, a atriz tinha a vida interior e o jeito pessoal do personagem do romance, além da pureza dos seres naturais e uma sensualidade espontânea. Ninguém encarnou Gabriela melhor que La Braga.

Gabriela - primeira versão - Foto: memoria globo

A adaptação do livro para a TV foi de Walter George Durst, um dos mais prolixos diretores do país, criador em 1952 do programa TV Vanguarda na aurora da Tupi. E a direção foi entregue a Walter Avancini e Gonzaga Blota.

A história se passa no começo do século XX na cidade baiana de Ilhéus, onde a vida provinciana e seu cotidiano acontecem sob o poder de cinco coronéis que logo experimentarão divergências políticas e comportamentais com alguns.

A chegada do Dr. Mundinho (José Wilker), figura liberal e cheia de ideias modernosas, soma-se ao repentino caso amoroso entre o comerciante turco Nacib (Armando Bogus) e a jovem e suculenta imigrante Gabriela (Sônia).

O quinteto do coronelato era formado por Ramiro Bastos (Paulo Grancindo), Melk Tavares (Gilberto Martinho), Amâncio Leal (Castro Gonzaga), Jesuíno Guedes (Francisco Dantas) e Coriolano Ribeiro (Rafael de Carvalho).

Na liderança dos ditos políticos e pudicos da cidade com ares tanto de sertão quanto de litoral, o personagem de Gracindo, que já vinha de um espetacular trabalho em O Bem Amado (1972) na pele do prefeito Odorico Paraguaçu.

Com cenários e figurinos impecáveis, a novela tinha uma abertura de elegia às artes plásticas nas telas do pintor cearense Aldemir Martins. Dizem que um jornalista potiguar chegou a dizer que eram de Newton Navarro, pelo estilo.

No elenco, ainda os talentosos astros e estrelas Ary Fontoura, Elizabeth Savalla, Fúlvio Stefanini, Nívea Maria, Mário Gomes, Eloísa Mafalda, Hugo Carvana, Ângela Leal, Marco Nanini, Dina Sfat, Stênio Garcia, Natália do Vale.

Gabriela foi uma novela tão rica na contextualização das coisas genuínas do país e, principalmente, do Nordeste, que de tão brasileira foi talvez a única a não contar com uma trilha sonora internacional. Só teve um disco nacional.

Na abertura, a voz de Gal Costa na canção título de Dorival Caymmi que explodiu nas paradas. E Bethânia arrepiando corações românticos no tema de Malvina (Elizabeth Savalla), Coração Ateu, a bela composição de Sueli Costa.

E nada marcou mais a novela do que o espetáculo interpretativo e plástico de Sônia Braga em toda sua beleza e gostosura e que depois ganhou o cinema gerando paixões. Dois filmes com ela estão entre as 10 maiores bilheterias.


Ela arrasou com Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) e A Dama do Lotação (1978), respectivamente atraindo 10,7 e 6,5 milhões de espectadores. Hoje aos 75 anos, é a atriz brasileira com maior destaque no ambiente de Hollywood.

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