A Metamofose
 Por Haroldo Varela Tardes preguiçosas, ruas ensolaradas, pés de ficus, cadeiras nas calçadas, lufadas de vento quente varriam as ruas e os dias… Pular muro do vizinho para pegar frutas (‘emprestado’), tomar banho de chuva na bica, roubar galinha na Semana Santa, grandes aventuras.
 Por Haroldo VarelaÂ
Tardes preguiçosas, ruas ensolaradas, pés de ficus, cadeiras nas calçadas, lufadas de vento quente varriam as ruas e os dias...
Pular muro do vizinho para pegar frutas ('emprestado'), tomar banho de chuva na bica, roubar galinha na Semana Santa, grandes aventuras.Â
Carneiro, galinha à cabidela, buchada, cuscuz, tapioca, queijo de manteiga, carne de sol, feijão verde, água de coco faziam parte do cardápio. Adorava ir à  feira, sempre acompanhado do meu avô que era frequentador assÃduo e conhecido por todos os feirantes.
Tudo era festa. E por falar em festa, me faz lembrar a da padroeira da cidade, era aguardada com bastante antecedência. O carro de som, entre uma publicidade e outra,  anuncia o evento. O motorista  só falta cochilar na direção da velha Rural Willys, 'ressuscitando' a cada quebra mola. Ao seu lado, o locutor, repete incansavelmente a mesma ladainha. Haja fôlego!
Sim, finalmente chegou o dia de comemorar a padroeira da cidade. A ansiedade é grande. As mulheres circulam pelo centro, com bobs, adaptados de de rolo de papel higiênico, garantia de eternizar o topete. Parecem uns ET's. Nos salões de beleza, as manicures estão com agenda lotada, para a grande transformação.Â
Dona Menininha já está está fazendo a escova e maquiagem. É a mais vaidosa das clientes. O contorno da boca de uma senhora, conhecida por dona Neném, parece mais um código de barra, mas, ela insiste por o baton encarnado. Ao meu vê, deveriam ir a festa de crachá, pois, muitas delas ficam irreconhecÃveis.
Os modelos dos vestidos são guardados a sete chaves, devido a grande curiosidade. No céu o tempo nublado ameaça o glamour do evento e apavora as beldades com seus penteados e produções. Vamos rezar para não chover.
Logo mais a festa tem inÃcio. Quem é do interior sabe como é... As festas são muito animadas. Os filhos da terrinha retornam e você encontra tudo que é parente,tendo a paciência de ouvir explicação dos mais velhos, sobre toda a árvore genealógica da famÃlia. Se der um pouco de corda, vai escutar causos enfadonhos e intermináveis.Â
Muita comida, bebida, feirinha, quermesses, bailes no clube e a farra dura até o dia da procissão da padroeira do lugar. Está chegando a hora.