A geração de minha avó
José Mascoloti Fui ver minha avó e pedi pra ela coser o botão da camisa.
José Mascoloti
Fui ver minha avó e pedi pra ela coser o botão da camisa. Olhou para mim e, com ternura, disse-me: "Querida, vem cá. Você tem que aprender a fazer tudo. Senão, o que farás quando eu morrer? Deitar fora as coisas porque você não sabe como consertá-las? Lembre-se sempre.”
Assisti-a enquanto usava seu dedal e tirava sua inevitável caixa de madeira, cheia de coisinhas para costurar e vestir. Me comoveu, porque ela vem de uma geração que coseu buracos nas meias em vez de jogar fora.
Aquela geração em que se trocava o elástico da roupa interior e os restos de um tecido de lençol eram criados blusas frescas para as mais pequenas. Nada era jogado fora, nada era desperdiçado.
Enquanto a observava, reparei na aliança dela, que nunca foi removida mesmo depois que o avô faleceu. Na verdade, ele também usa o seu como pingente.
Pensei em todas as vezes que “implorou” em vez de jogar fora, em todas as vezes que reparou e reparou em cinquenta anos de casamento, com seu dedal e suas alianças.
Tem razão a sua geração, que valorizava as coisas e as pessoas. Vamos até nossas avós para que elas nos ensinem a remendar relações, recompor o coração, reparar feridas familiares, lutar pelo que vale a pena e bordar novamente o valor da vida.