A eterna imagem de Marilyn
Alex Medeiros – Jornalista e escritor [alexmedeiros1959@gmail.
Alex Medeiros - Jornalista e escritor [alexmedeiros1959@gmail.com ]
Se viva estivesse, na última quinta-feira, seria uma avozinha de 97 anos. Nasceu num 1 de junho de 1926 e morreu aos 36 anos, em 1962. Mas Marilyn Monroe continua cada vez mais viva, mitificada, presente e absoluta como uma deusa de longevo culto, de perpétua religião. Poucos artistas quanto ela são evocados e louvados no mundo inteiro sessenta anos após fechar os olhos.
A atriz e modelo americana que estremeceu os alicerces da Terra com um sex-appeal jamais visto e com um ar de namorada mimada e viúva indormida, tornou-se para sempre uma imagem que crítica nenhuma jamais ousou macular ou questionar.
Consagrada no cinema, Marilyn se imortalizou na fotografia, onde sua beleza de divindade grega se multiplicou aos bilhões para suprir a mercantilização da comunicação de massa e estabelecer-se um bordel de paredes, como dizia McLuham.
Quantas edições e cópias fotográficas da diva passaram por inúmeras paredes de incalculáveis quartos masculinos (e também feminino) ao longo das últimas oito eras que correspondem ao seu debute profissional com o fotógrafo David Conover?
Por mais importantes sejam as imagens animadas dos filmes, são as poses nas fotos as maiores responsáveis pela condição infinita do seu glamour. Vejam que até a sua cena mais cultuada no cinema, com o vestido branco, tornou-se épica no papel fotográfico.
Em “O Pecado Mora ao Lado” (1955), quando sua personagem retorna de uma sessão de “O Monstro da Lagoa Negra” (1954), papeando com a personagem de Tom Ewell, o ar da boca do metrô de Nova York sacode o vestido, exibindo seus joelhos e coxas. Não é uma Marilyn por inteiro que aparece na tela do cinema, mas apenas takes das suas pernas, como nas cenas posteriores em que tira as sandálias numa poltrona do apartamento do homem. A imagem que depois ganharia o mundo é na fotografia.
Coube ao fotógrafo San Shaw o feito de paralisar para sempre mulher, vestido e ventania, propondo ao diretor Billy Wider a famosa e formosa cena do respiradouro do metrô. Na noite da foto para publicidade do filme, centenas clicaram a eterna imagem.
Já Tom Kelley, afeito a fotografar presidentes americanos em seus paletós impecáveis, foi o responsável pela imagem mais apetitosa da atriz, feita para a revista Playboy, onde seu escultural corpo nu e um largo sorriso repousam sobre veludo vermelho.
Foram eles, os fotógrafos, quem mais contribuíram, na medida certa, para a mitificação do símbolo de beleza feminina imposto para o século XX. Nada foi igual a Marilyn nua, sensual, glamourosa, curvilínea, graciosa, mulher, perfeita e, mais que tudo, solitária.
O primeiro, no aspecto oficial, a retratá-la foi André de Dienes, um romeno da Transilvânia, que iniciou carreira em Paris e se picou para os EUA em plena Segunda Guerra. Em 1945, clicou a jovem Norma Jean de riso juvenil e cabelos escuros.
O inglês Cecil Beaton, que em 1937 era o fotógrafo oficial da família real britânica e emoldurou o charme instigante da atriz alemã Marlene Dietrich, apontou sua objetiva para Marilyn, em 1956, deixando a famosa série da loura entre lençóis e inocência.
Também Eve Arnold, a espetacular fotógrafa que a partir dos ensaios de moda e free lancers para a revista Life atraiu a atenção da agência Magnum, dos gênios Cartier Bresson e Robert Capa, assinou muitas das históricas imagens de Marilyn.
Amiga pessoal da atriz, Eve a fotografou por mais de dez anos, gerando três livros a pedido da própria atriz. Durante as filmagens de “Os Desajustados”, em 1960/61, último filme de Marilyn, temos uma mulher em desconstrução emocional, uma alma melancólica.
Outros nomes perpetuaram Marilyn, como Earl Moran (um dos primeiros na fase Norma Jean, logo após Cecil Beaton), Richard Avedon (capturou o olhar mais triste dela em 1957) e Best Stern (realizou o último grande ensaio pouco antes da sua morte).
As últimas fotos em vida, desnuda do glamour, são do amigo George Barris, que ao saber da partida da amiga, partiu para Paris e só voltou décadas depois. E temos as fotos mais íntimas, domésticas, clicadas por maridos, amantes e repórteres fortuitos. Frank Powolny, que já havia mitificado a pin-up Betty Grable de maiô, repetiu a dose com Marilyn anos depois, exibindo-a em maiô vermelho e peças de lingerie, nas fotos mais exuberantes da diva. Dizem que são deles, realmente, as últimas imagens.
Há uma tese na mídia americana que Powolny teria clicado Marilyn Monroe poucos dias depois do ensaio de Stern e horas após Barris. Aos íntimos ele teria confessado que as fotos só seriam publicadas muitos anos depois da sua morte. Como a dizer que Marilyn não tem fim.