A Escalada há 50 anos

janeiro 19, 2025

Alex Medeiros – Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) – Texto publicado na Tribuna do Norte Em janeiro de 1975, no feriado natalense do Dia de Santos Reis, a TV Globo estreava a novela Escalada, a última do horário nobre das 20h produzida em preto e branco.

Alex Medeiros - Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) - Texto publicado na Tribuna do Norte

Em janeiro de 1975, no feriado natalense do Dia de Santos Reis, a TV Globo estreava a novela Escalada, a última do horário nobre das 20h produzida em preto e branco. Três anos depois do advento das cores, quando transmitiu O Bem Amado, a emissora carioca interrompeu sete anos da casadinha entre Tarcísio Meira e Glória Menezes e juntou seu grande astro com Suzana Vieira, que arrebentaria e faria talvez o seu maior papel em telenovelas.

Tarcísio Meira e Suzana Vieira em Escalada

O enredo era a terceira narrativa de Lauro César Muniz sobre o tempo, iniciada em 1971 com Os Deuses Estão Mortos e seguida em 1972 com Quarenta Anos Depois, ambas na TV Record. Ele faria ainda a quarta parte em 1976 com O Casarão, na própria Globo. A história do personagem Antônio Dias (Tarcísio) foi inspirada na vida do pai de Muniz, enxertada de muito licenciamento poético, obviamente. Tudo começa com o roubo de um invento revolucionário.

Sujeito simples, Dias inventa um aparelho de matar formigas, começa a ganhar algum dinheiro, mas é roubado por um malandro. Fica sem nada e vai embora, mas vê o ladrão num trem e o segue até chegar numa cidadezinha pastoril.

Ali ele descobre que o vigarista era uma celebridade, o Professor Tadeu (papel do ator Lutero Luiz). Então decide fazer sua escalada humana e social, se estabilizando, tornando-se um exemplar cidadão e um herói da comunidade.

Dirigida por Régis Cardoso, a história de Muniz se divide em três épocas, começando nos anos 1940, seguindo pelos anos 1950 e concluindo nos anos 1960, inserindo a trama nos contextos políticos e culturais de cada período.

Para conceber a cidade de Rio Pardo, a Globo armou o set de filmagem em Jesuítas, uma cidade da zona rural do Rio de Janeiro. A presença diária dos artistas causava um frisson na população, sempre buscando os autógrafos.

Além de Tarcísio Meira, já consagrado como uma versão brasileira do francês Alain Delon, um galã que provocava suspiros nas garotas era Ney Latorraca, que aos 30 anos estreava na dramaturgia global após anos na Tupi e Record.

O icônico Chacrinha publicou em sua coluna “o que tem de mulher gamada no novo galã, o Latorraca da novela Escalada, não dá pra contar nem em oito escalas numéricas. O rapaz está dilacerando os corações das coitadinhas”.

E semanas depois, ao que parece, o ator mexeu também com corações masculinos, na nota do colunista Barão de Siqueira Jr., anunciando que o levou para a “Sauna do Copa” (no Copacabana Palace), sendo “a grande atração”.

O personagem de Tarcísio atravessaria as décadas com o coração dividido entre dois amores, Marina (Renée de Vielmond) e Cândida (Susana Vieira). A primeira vai embora e Antônio Dias casa com a outra, uma sensual fazendeira.

Marina é irmã do seu grande rival dos negócios, Armando Magalhães (papel de Milton Moraes que havia dado um show em 1974 na novela O Espigão). Casar com ela seria marcar um duplo, realizar-se no amor com um gosto de vingança.

A trama passa pelos anos da construção de Brasília, onde o protagonista tem negócios. A censura federal proibiu a citação do presidente Juscelino Kubistchek, que era persona non grata no governo do general Ernesto Geisel.

Escalada foi a primeira novela em que a Globo abriu parceria com as gravadoras de artistas internacionais, o que facilitou o trabalho de Guto Graça Mello que vinha produzindo tudo dentro dos limites fonográficos da Som Livre.

A trilha nacional foi uma viagem pelas décadas do romantismo musical, com clássicos de Francisco Alves, Orlando Silva, Dick Farney, Nelson Gonçalves, Dorival Caymmi, Carmen Miranda e o ilustre morador de Natal, Silvio Caldas.

Para os anos 50/60, as gravadoras deram a nata, numa trilha internacional campeã de vendas com Bill Halley, Elvis Presley, Neil Sedaka, Paul Anka, Nat King Cole, The Platters, Ray Conniff e Glenn Miller. Uma escalada de sucessos.

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